O CANTO DA GAIVOTA
Oito da manhã. Uma brisa fresca levanta as cortinas da janela
e ele espreguiça os últimos momentos do seu sono. Não sabe se sonha ou se navega
em alto mar, mas não se vê em ondas, tão avesso é a barcos e navios. No mar
fica nas margens, enrola-se na areia, molha-se de supetão e foge, que as algas
têm algemas que nos arrastam para longe. Sonha, então, que nos sonhos os
receios são diferentes. E, nele, um pio alegre, bem desperto, não pede
licença para entrar pela janela. Mas não é sonho, é mesmo realidade. Levanta-se,
abre as cortinas e vê-a, a gaivota branca, planando mesmo em cima do jardim.
Uma gaivota em Braga, coisa muito rara de se ver. Segue-lhe as espirais,
delicia-se com os pios e as recordações do mar, lava-se de algumas nuvens
brancas e do azul fino da manhã. Segue-lhe o voo até desaparecer no cimo da rua,
ao lado do jardim, onde um gato acinzentado esgravata ligeiramente a terra.
Fixa-se no gato, estuda-lhe os movimentos, e aguarda. Ao longe, no cimo da rua,
uma morena engraçada saracoteia. Vai com certeza para o trabalho, muito sincopada,
muito concentrada. E assim começa o dia, o dela e o meu, bucólico que chegue.
Nada mau, para as oito horas da manhã.
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