ALHURES, ALGURES, NENHURES
Conheço e uso estes três advérbios portugueses. Uso-os quando acho que
devo usá-los, fixo-me no seu significado locativo e temporal, e nunca me passou
pela ideia pôr-lhes laços de seda por razões estéticas. Há quem não goste deles
por essa razão, coisa bem difícil de compreender, a não ser que sintam um
cheirinho a alho ou a algas marítimas quando os colam na frase ou no texto.
Evidentemente, estas palavras nada têm a ver com os alhos ou com as algas. No
caso de alhures, por exemplo, a sua
origem é controversa, mas tudo aponta para o provençal alhors que terá andado por ailurs
ou aillurs e que evoluiu para o atual
ailleurs. Em francês, esta palavra
significa em algum lugar, em outro lugar, e é exatamente esse o
significado de alhures em português. A
forma algures tem o mesmo significado
e será uma combinação da forma alhures
com o pronome indefinido algum. Na
medida em que na sua significação está contida a preposição “em”, evita-se, em
geral, o uso desta preposição. Daí dizer-se Vive alhures, ou Vive algures,
e não *Vive em alhures ou *Vive em algures. Com preposições
diferentes, é possível: Vir de alhures,
Vir de algures. O mesmo raciocínio
para nenhures: Viver nenhures, Vir de nenhures (em nenhum lugar, de
nenhum lugar, com nenhum igual a
pronome indefinido). Estas formas têm a particularidade de funcionarem, tal
como outras formas deíticas, nas noções de espaço e de tempo. Na física, estas
noções estão relacionadas e será essa a explicação para o uso locativo-temporal
dos adverbiais em causa.
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