terça-feira, junho 16

ALHURES, ALGURES, NENHURES


Conheço e uso estes três advérbios portugueses. Uso-os quando acho que devo usá-los, fixo-me no seu significado locativo e temporal, e nunca me passou pela ideia pôr-lhes laços de seda por razões estéticas. Há quem não goste deles por essa razão, coisa bem difícil de compreender, a não ser que sintam um cheirinho a alho ou a algas marítimas quando os colam na frase ou no texto. Evidentemente, estas palavras nada têm a ver com os alhos ou com as algas. No caso de alhures, por exemplo, a sua origem é controversa, mas tudo aponta para o provençal alhors que terá andado por ailurs ou aillurs e que evoluiu para o atual ailleurs. Em francês, esta palavra significa em algum lugar, em outro lugar, e é exatamente esse o significado de alhures em português. A forma algures tem o mesmo significado e será uma combinação da forma alhures com o pronome indefinido algum. Na medida em que na sua significação está contida a preposição “em”, evita-se, em geral, o uso desta preposição. Daí dizer-se Vive alhures, ou Vive algures, e não *Vive em alhures ou *Vive em algures. Com preposições diferentes, é possível: Vir de alhures, Vir de algures. O mesmo raciocínio para nenhures: Viver nenhures, Vir de nenhures (em nenhum lugar, de nenhum lugar, com nenhum igual a pronome indefinido). Estas formas têm a particularidade de funcionarem, tal como outras formas deíticas, nas noções de espaço e de tempo. Na física, estas noções estão relacionadas e será essa a explicação para o uso locativo-temporal dos adverbiais em causa.

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