sábado, julho 28

LER É PRECISO!

“Também lês disso?”, perguntaram-me um dia quando me viram com “A Bola” na mão. Pergunta estúpida. “A Bola”, o “Record”, o “Jogo” e outros jornais desportivos são veículos importantíssimos de cultura e, num país que assume o seu profundo gosto pelo futebol, veículos quase insubstituíveis. De manhã, quando tomo o meu cafezito na esplanada em frente, não há cliente que não folheie um jornal desportivo, entre outros. Se não aprofundam outro tipo de leitura, que as pessoas leiam pelo menos jornais. Por isso fiquei contente quando peguei hoje no “Record” e vi lá uma pequena entrevista a Aguiar e Silva, professor catedrático jubilado das Universidades de Coimbra e Minho. Não sabia que o professor tinha jogado futebol, que aprecia natação ou atletismo. Mas era fácil presumir o seu amor pela cultura desportiva: profundíssimo conhecedor da cultura greco-latina, ele sabe que nos jogos olímpicos da antiguidade se projectava a humanidade em todo o seu esplendor. Se até as guerras paravam para ver os desportistas…
Viva o desporto! Vivam os jornais desportivos! Vivam todos os que acreditam que a CULTURA também se faz de dardos, de discos, de varas e de relvas, de campos enlameados, de palavras, de frases e de ideias além dos nossos grandes saramagos.

terça-feira, julho 24

A MINA

Não consigo perceber porque se preocupam tanto com o petróleo. Se o descobrirem ao largo de Peniche (lagarto, lagarto, toc, toc, toc…), era uma vez uma costa linda e donzela. Porque do Carvoeiro, nem vê-lo, quando muito ver-se-á ao longe e ao perto a negridão do carvão… Também não entendo esta azáfama em torno de ouros ou volfrámios, como se de metais vivêssemos neste rectângulo cada vez mais quadrado. Vocês já viram os bancos? Não mexem uma palha, a malta vai de joelhos e sai a esguichar sangue, e ele são lucros fabulosos em hora de soluço colectivo. Portanto, a prospecção só faz gastar dinheiro, é completamente desnecessária, além de dar cabo dos costados cá do pessoal que, na escuridão das minas, tem de vergar a cerviz a tudo quanto é capataz. E tudo isto porque, já viram bem, há uma mina nas estradas, nas ruas e ruelas, nos becos sem saída de cada cidade ou quarteirão. Alguns já descobriram a mina. Ou as minas. Por exemplo, a dos parques de estacionamento. Grande mina, hem? E esta dos limites de velocidade? Caramba… Mais vale tarde do que nunca. Ele era o Porto, ele é Lisboa, é só minério a entrar nos cofres das edilidades… Tenho de me pôr a pau: o meu mesquitinha ou anda a dormir ou anda a programá-las. E era bem feito! Porque é preciso pagar a Pedreira nem que seja à pedreirada… Oh Mesquita, acorda, rapaz!!!

domingo, julho 15

Para quem é, bacalhau basta

Quando eu era rapazote, de canastra na cabeça e pose lampeira, as sardinheiras apregoavam em bem sincopados pregões: “Vinte à croa!”. Era o tempo da sardinha farta e só aparentemente barata. Pelas bandas da aldeia, comer uma sardinha era descobrir o cheiro do mar, e como ela sabia bem em cima de um naco de pão…Tal como as iscas de bacalhau, iscas fritas, que o bacalhau cozido ficava sempre debaixo das couves e das batatas até ao arroto final. Naquele tempo, pois, eram a sardinha e o bacalhau. Peixe do povo, que nem de léguas mirava outras suculentas barbatanas. Para o povo, chegava a sardinha e o bacalhau. Aliás, era o que podia comer, quando de longe se apregoava o pitéu. Mas para os outros havia com certeza boa lagosta e bom camarão. “Para quem é, bacalhau basta”. Naquele tempo, que não agora. Porque agora, o bacalhau não basta ao povo. Já viram o preço dele? Ontem fui comprar duas postas demolhadas, congeladas, assim para o pequeno. Fiquei de olhos em bico: 15 euros (que saudadinhas da croa = coroa=50 centavos)! Meu Deus, como os tempos mudam. No S. João paguei sardinha assada a 3 euros… Não! Temos de mudar a expressão. Melhor será dizer que, “Para quem é, bacalhau talvez baste”. Isto se quisermos dar de oferenda um bacalhau ao grande amigo. Ou talvez um peru. Mas cuidado com os sentidos, que esta língua é mesmo muito traiçoeira…

sexta-feira, julho 13

ESTE ZEQUINHA...

Gosto de trabalhar de noite. Como de costume, ontem ia lendo e escrevendo umas coisitas enquanto via o Chile-Portugal, em sub-20. Não esperava grande coisa da equipa portuguesa que, nos jogos anteriores, demonstrou demasiada fragilidade. Treinador de sofá como sou, lá me vou apercebendo de que estas equipas formadas e orientadas pelo José Couceiro não valem mesmo nada, não criam um lance em condições, andam à deriva. O que vi ontem, no entanto, ultrapassa a linha do minimamente admissível. Os jogadores do Chile corriam dez vezes mais do que os nossos, tacticamente deram-nos um bailinho de todo o tamanho. Não sei muito bem como são escolhidos estes jogadores “de selecção”, como pomposamente gostam de ser chamados. Tenho para mim, no entanto, que dar uns toques e fazer umas piruetas não tem nada a ver, um futebolista profissional que se preze tem de ter tudo no sítio, incluindo logicamente a inteligência e a emoção. Não é de agora que os jogadores portugueses mostram uma fragilidade emocional confrangedora, e algo vai mal no reino dos nossos futebóis. Então aquele final de jogo, com a agressão do Mano e com o Zequinha a tirar o cartão da mão do árbitro, foi de gritos. E não é que o Zequinha ainda se achava com razão? Viram como ele saiu do campo agarrado pelos colegas? Jogar na equipa de Portugal tem de ser outra coisa, muito diferente, a agressividade deve ser demonstrada no próprio jogo e sempre dentro das suas leis. Jogadores com esta instabilidade emocional não podem jogar na selecção portuguesa, tal como não podem comandá-la treinadores que perdem sempre por causa dos árbitros… Que tristeza!

quinta-feira, julho 12

O DESPORTO E A LEITURA...

Sempre gostei de desporto, joguei futebol, participo o mais possível nas actividades desportivas dos meus filhos, aceito inclusive dirigir de uma ou outra forma alguns clubes, ou pelouros de clubes, tudo em nome da saúde física da minha gente. Como se diz em português corrente, “vou a todas”. Acho, aliás, que o desporto é “a” escola de todas as virtudes. Por isso participo, e leio. Há tempos, um amigo que me conhece a veia mais intelectual, vendo-me a ler “A Bola”, perguntou-me meio admirado: “Também lês disso?”. Que resposta havia de dar a tão perplexo amigo? Respondi-lhe: “Claro que leio. E tu, não lês?”. Olhou para mim e acho que percebeu. Porque a cultura também passa pelo desporto. Aliás, como diria o Eça, também passa pela forrrrrça física, a par da forrrrrrça intelectual. E quando ontem disse ao meu mais novo: “Filhote, não te esqueças de ler”, e ele me respondeu: “Compra-me o “Record” que eu leio”, nem pensei duas vezes. A partir de hoje, volto a comprar o “Record”. Eu, que tenho tudo à mão de semear na Internet… Mas se o meu filho quer lê-lo, eu compro-o, pronto!