quinta-feira, novembro 20

LINGUAGEM VIOLENTA NO DESPORTO

Enquanto aguardava pelo Brasil-Portugal, assisti ontem a um debate sobre linguagem violenta no noticiário desportivo. Um pai alertou o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas para uma série de expressões violentas que lera em jornais, do tipo de “ O grupo X era um alvo a abater”, “vingança saborosa” ou “decidiram partir para a humilhação do adversário”. E o Conselho Deontológico lá recomendou exigência ética e deontológica aos jornalistas, o que nem me parece necessário, pois qualquer jornalista, como bem vincou Vítor Serpa, sabe que há linhas que não deve ultrapassar.

A verdade, porém, é que leio todos os dias expressões que me ferem a sensibilidade, e que, se bem (mal) assimiladas pelos jovens desportistas, podem induzir comportamentos errados. Por exemplo, embora perceba a mensagem, choca-me ver os “guerreiros” do Sporting de Braga em cartazes espalhados pela cidade, com armaduras e tudo… Porque o futebol é um desporto nobre, não é terreno de guerra, nem um simples jogo deve ser sentido como uma batalha.

Mais grave, na minha opinião, é a falta de formação de alguns dirigentes, treinadores e árbitros que acompanham o futebol infanto-juvenil. Eu sei que não é fácil construir um edifício de excelente formação desportiva, mas os clubes devem prestar atenção redobrada às características dos formadores, procurando neles uma boa base científica, pedagógica e essencialmente humana. É inaceitável que num jogo de infantis o treinador insulte um árbitro, como é inaceitável que um árbitro não compreenda a índole de um jovem de 9 ou 10 anos, penalizando-o quando deve ensinar. A formação desportiva é uma área demasiado importante para ser deixada ao deus-dará.

quinta-feira, novembro 13

PARA PENSAR

O E. é um jovem de dez anos, muito inteligente e sensível, que gosta de ler e de escrever. Porque lê muito e com prazer, conhece já parte substancial do léxico e usa-o com propriedade. Um destes dias, desenvolveu em casa um tema simples. A mãe, como sempre, ajudou-o numa ou noutra vírgula, mas sem interferir no registo vocabular. Ontem o professor sublinhou-lhe a redacção e disse-lhe: “Estas palavras não foram escritas por ti”. O E. não reagiu, mas sentiu-se injustiçado. Ontem à noite o E. estava calmamente a fazer outra redacção. Escreveu uma palavra mais “difícil”, a mãe achou-a muito bem utilizada no contexto e disse-lhe: “Olha que bem!...”. E incentivou-o. Mas o E. ficou pensativo, cabisbaixo, e disse à mãe: “Não, mãe, é melhor não usar essa palavra, porque o professor não vai acreditar que fui eu que a escrevi”. A mãe ficou estarrecida com a resposta e decidiu ir falar imediatamente com o professor.

Este episódio é verdadeiro e faz-nos pensar. Que parte cabe aos pais na educação (e na instrução) dos seus filhos? Que acção científica e pedagógica deve o professor desenvolver para que não destrua pela raiz a competência e a criatividade de jovens como E.? Porque quando uma criança de dez anos não escreve a palavra X porque o professor não vai gostar, ou porque o professor vai duvidar, então algo está profundamente errado. E o erro não está certamente na criança, que apenas quer exprimir o seu pensamento nas estruturas que lhe são intrínsecas e com as palavras que vai aprendendo.