quarta-feira, janeiro 30

AS VELHAS ÁRVORES

Olha estas velhas árvores, — mais belas,
Do que as árvores mais moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas . . .

O homem, a fera e o insecto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas . . .

Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória da alegria e da bondade
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

Olavo Bilac

quinta-feira, janeiro 17

REPUGNANTE

É adjectivo, e rasga que se farta. O Baptista-Bastos usa-o, e quando o usa afia o monóculo do Eça: “As afrontosas injustiças sociais conduzem as pessoas a um cada vez maior afastamento do acto cívico e ao desprezo repugnante pelos políticos”. Parece que Henrique Granadeiro, administrador da Telecom, aufere mensalmente 185 590 euros. Leram bem, mensalmente. Ao que consta, temos uma classe de gestores e de políticos absolutamente iluminados que, enquanto chutam as empresas e o país para os cueiros da Europa, se entretêm a enxamear os bolsos de aveludados euros. Enquanto tal, o pobre esperneia, saciando a fome em miseráveis cêntimos. É afrontoso, revoltante, repugnante. O Baptista tem razão: este país precisa de um valente coice. Dos burros. Ou dos camelos.

segunda-feira, janeiro 14

LIBERAIS DE PACOTILHA

E Pedro Magalhães disse que os colunistas andam irritados. Motivo: a crescente regulação dos comportamentos individuais pelo Estado. E Vasco Pulido Valente respondeu-lhe. O Pedro merecia, o Vasco, pelos vistos, também. Os argumentos são os costumeiros: ameaças à cultura e à tradição; atentados à liberdade individual; falta de educação e inevitabilidade dos comportamentos. O Pedro, nas meias tintas, coercivo. O Vasco, não sei se nas meias se nas umas, abrasivo. Isto só vai mesmo é a chicote, diz o Pedro. Eu acho que tem razão, se pendurado nas nuvens.