domingo, setembro 28

ARGUMENTAVAS...

Argumentavas leve, mas augusta,
Sobre o amor ou sobre a vida vil,
Imploravas sentir o quanto custa
Esmaecer um poema em flóreo Abril.

A leira abria um sulco meio adusto,
O tentilhão trinava em mim pueril,
A natureza que jamais se assusta,
Derramava lágrimas, mais de mil.

Só de ouvir-te, as lágrimas choravam,
O sol, o monte, o mar, todo o esplendor,
Da vida os elementos gotejavam.

Tu sabes muito bem que além da dor,
Além das vãs palavras que clamavam
Tu e os outros, há o divino Amor.

Copyright José Silva, 28.09.2008

segunda-feira, setembro 22

ANDA TUDO MALUCO...

Leio que Bush anda a salvar impérios privados. Pelas Américas, tudo é possível. Por cá, tudo na mesma, como a lesma: consumo em queda permanente, pobreza galopante, natalidade a tender para zero, medidas para alterar a situação inexistentes. Este país é um oásis de nada. Nem os futebóis nos alegram…O Benfica é sempre a mesma tristeza; o Sporting joga sempre com “tranquilidade”, consoante os solavancos do Paulo Bento; o Porto até já empata com o Rio Ave. Em Espanha sobram as bombas. Será que o Obama ganha? Este mundo não anda lá muito bem da cabeça…

terça-feira, setembro 16

MAIS DO MESMO

Levanto-me e leio. Isto é que vai uma crise… Pelas Américas há bancos a falir. Anda tudo com as calças na mão… Portugal continua, impávido e sereno, a pedir esmola na esquina. Os nossos políticos nem se vêem. O Sporting joga hoje com o Barcelona, ganhará? As aulas já arrancaram, pelo menos os putos partiram alegres. A ver vamos.

domingo, setembro 14

PINTURA

Estávamos os dois ali deitados,
Sob a ramagem lenta dos pinheiros.
Dois esquilos sorriam enlevados,
Eram sorrisos puros, verdadeiros.

O sol queimava longe nos eirados,
O céu tremia azul sobre os lameiros,
E nós ali amando-nos calados,
Do mundo éramos únicos, primeiros.

O amor dá sempre a mão à natureza,
Aperta-a contra o peito e sempre implora
A simbiose da dor com a leveza.

Pintura somos nós a toda a hora:
O céu, o sol, a cor e sem surpresa,
A tua boca que florescente aflora.

José Silva, Copyright, 15.09.2008

sábado, setembro 13

CANSAÇOS…

Um dia li Robert Musil e o seu “ O homem sem qualidades”. Musil é um malandro, mas um malandro muito sério. Em determinada passagem, diz que ser feliz cansa tanto como ser infeliz, é tudo questão de contexto e de atitude perante a vida. A verdade é que o ser humano nunca está verdadeiramente feliz com a sua condição, nem porventura quando lhe saem 50 milhões. Ouvi dizer que o amigo de Vila Verde, mais recente vencedor do Euromilhões, é um homem infeliz. Esconde-se, ninguém sabe dele, a sua vida mudou, pelos vistos para bem pior. Que se lixe o dinheiro, dirão. Pelos vistos, ser feliz cansa mais do que ser infeliz. O Musil terá razão?

sexta-feira, setembro 12

A VIDA E A MORTE

A propósito do poder, dizia Kundera que a luta da memória contra o esquecimento é fulcral na vivência humana. A memória, essa coisa relativa ao passado, porque a memória do futuro é impossível. Há pouco, o meu mais velho, filósofo em plena floração, reforçava: “Com a ciência actual, as pessoas podem viver quase eternamente. Podem substituir peças, podem pôr um coração mecânico, um braço articulado, um chip de memória nas memórias idas.”. Fiquei a pensar… A busca do elixir da juventude ultrapassou a ideia e concretiza-se em factos: o homem, hoje, pode efectivamente viver mais. Mas, para quê? Para viver ou para sofrer? E cogito: Tenho a sensação de que à busca da vida eterna se sucederá o desejo obsessivo da morte. Um dia destes, não vamos querer viver, mas desejar inelutavelmente morrer.
CACULO

Quando eu era pequeno, a minha mãe dizia-me muitas vezes: “Precisas de te alimentar bem, come um prato de massa de caculo!”. Porque a língua se transmite de pais para filhos, em variadas sincronias, continuo a dizer ao meu mais novo, jogador de bola e gastador de necessários hidratos e outras calorias: “Tens de comer uma grande pratada, filhote, de caculo!”. Ele vai brincando comigo, diz que tal palavra não existe, e que eu vivo no século XV da língua portuguesa. Até pode ser. As línguas são extraordinariamente dinâmicas, as palavras cabeceiam significados, mas é óptimo que os mais velhos actualizem estas palavras, relevando a riqueza insuperável do léxico da nossa língua. Consulto vários dicionários e nada. Consulto o formidável Houaiss et voilà: “Caculo: em demasia, em excesso, de sobra”. É isso mesmo! Um prato de massa de caculo é um prato cheio, se possível em pirâmide, para saciar a fome e dar energia. A palavra, afinal, ainda existe! Eu que o diga, pois a repito todos os dias…
CUECA

Não, escusam de pestanejar porque não estou a pensar na cueca, pecinha de vestuário a que por aqui chamamos, em altaneiro tom, cuecas, ou cuequinhas, agora reduzidas a um tão débil fio que quase nem se vêem, para bem dos nossos cansadinhos olhos. Estou antes a pensar na rítmica cueca, dança típica do Chile, que ouço neste momento. Linda, parece o malhão… Mas por que carga de água estou a ouvir música chilena, e ainda por cima música popular? Só esta e a da lambada… Estas nossas meninges pregam-nos cada partida…

quarta-feira, setembro 10

SEM TEMPO

Isto hoje está complicado. Nem tempo tenho para ler os jornais… Podia falar do tempo, mas as nuvens parecem sempre as mesmas… Podia falar de futebol, mas Portugal ontem foi uma tristeza… Podia, enfim, falar de política, mas o Baptista-Bastos acaba de dizer que a Manuela Leite parece uma estátua fria… O melhor é não dizer nada. Há momentos em o calado é realmente o melhor.
Interessante: se o particípio de calar é calado – e se eu não falo, escrevo – qual seria o particípio que eu deveria empregar neste momento? Ou este particípio é já adjectivo, e eu deveria estar quieto? Pronto: fico quieto!

terça-feira, setembro 9

MARAVILHA...

Há palavras belas, que nos tocam, que traduzem sentimentos quase inexplicáveis. A palavra maravilha é uma dessas palavras, que uso frequentemente. Em Latim, significava exactamente “coisas admiráveis”, e ganhou estatuto em formas que se fixaram na língua e que são, portanto, de conhecimento e uso geral. Quem não conhece a oitava maravilha do mundo, ou as sete maravilhas do mundo, quando nos referimos aos sete monumentos da antiguidade, ao farol de Alexandria, às pirâmides do Egipto, aos jardins suspensos de Babilónia, ao templo de Diana em Éfeso, à estátua de Zeus em Olímpia, ao mausoléu de Halicarnasso ou ao colosso de Rodes? Ficamos felizes quando as coisas nos correm às mil maravilhas, contamos maravilhas dos nossos filhos, há quem faça maravilhas só com o olhar e, final dos finais, dizemos – como eu digo frequentemente – “Que maravilha!”, como exclamação de entusiasmo, assombro ou encantamento. A vida é realmente uma maravilha. Assim a saibamos sentir e viver, olhando os olhos dos pássaros, sentido bater o coração das águas, amando plenamente quem nos ama.

domingo, setembro 7


PURA MAGIA
As línguas possuem no seu corpo expressões que, nas diversas sincronias, se foram fixando, constituindo um belo acervo cultural. Quem não resolve um problema enquanto o diabo esfrega um olho, ou quem não vai, por vezes e a pé, ao longínquo cu de judas? Estudar a origem destas expressões é da competência da lexicologia, disciplina sem dúvida relevante dos estudos linguísticos.
Ontem alguém me referia a expressão pura magia, também ela em fase de fixação na língua. De pura magia são as realizações de Houdini, os poemas de Pessoa, os livres secos e certeiros de Ronaldo. De pura magia são as ancas da Jennifer Lopez, os olhos rasgados da Zeta-Jones ou os lábios da Angelina Jolie. Mas a magia voga também nas flores, na giesta dos montes, na água límpida dos rios, no chilrear vibrante dos pássaros. Não admira, pois, que o povo cristalize a forma, a use espontaneamente, pretendendo com ela designar estados reais ou de alma muito particulares.
Do que ninguém duvida é da pura magia de um beijo apaixonado, de um olhar fixo e quase infinito, de um acto de amor profundo e verdadeiro. No amor, que é indefinível, tudo se transforma em puríssima e saborosa magia. Amemos, pois, magicamente!

sábado, setembro 6

De Palin a Jardim

Sarah Palin é candidata a vice-presidente dos Estados-Unidos. Ao mesmo tempo, Sarah envia mensagens para a convenção do Partido para a Independência do Alasca. Algo não bate certo nesta posição. John Mccain deve cuidar-se. Em Portugal, houve (e há?) movimentos independentistas, com jardins resplandecentes de alusões e de ironias. Há tempos, alguém sugeriu: Jardim à presidência de Portugal! Eu acho bem. Nesta pasmaceira escura, bem precisados andamos de canteiros floridos e de silvas ao vento. Mas que não haja confusões: no Alasca, que haja lasca! Na Madeira, que o gorgulho não viceje.

sexta-feira, setembro 5

ANGOLA

Procuro informação sobre Angola. Sei que decorrem eleições legislativas, sei que a comunidade internacional se preocupa com elas, e também sei que o governo angolano rastreia cuidadosamente a cobertura jornalística. Leio Angola News e, para além de não vislumbrar uma única palavra em português, zero sobre as legislativas. Leio Angola Press: informação cuidada (demasiado cuidada?). Consulto a Angola Digital. Grande título: Eduardo dos Santos: um Maquiavel moderno no comando de Angola há 29 anos. A guerra acabou, Angola renasce das cinzas. O crescimento actual parece forte e tudo aponta para mais uma vitória de Eduardo dos Santos. Que Angola saiba encontrar o seu caminho, em paz e com grande progresso, é o desejo de todos os irmãos portugueses.

quinta-feira, setembro 4

REQUINTE

Nunca me tinha apercebido disso. Estudar a língua é uma coisa, estudar as mulheres é outra, bem diferente. Mas ela disse-me: “As mulheres do sul são mais requintadas que as do norte”. Porque as mulheres do sul são mais aprimoradas no porte e na linguagem. Fiquei a pensar. Será verdade? Não conheço muitas mulheres do sul, mas a verdade é que cá as minhas conterrâneas abusam um pouquinho do palavrão. Claro que não são todas, há-as bem polidas e com algum verniz nos neurónios. Mas aquela do requinte, do primor, da quinta-essência comportamental deixou-me de lado. Porque a ideia que tenho é de que as mulheres são todas bonitas, e a de que a beleza é uma resultante também da linguagem. É feia uma loiraça que diz um palavrão? Depende do contexto… Depende do contexto…

quarta-feira, setembro 3

E AS FÉRIAS JÁ LÁ VÃO...

Voltei. As férias terminaram; o sol este ano esteve envergonhado; os pingos de chuva já amaciam a pele. E cá vamos para mais um ano de trabalho. Só espero que valha a pena, e que não nos torçam o nariz em horas de lua nova.