segunda-feira, abril 30

ROSALÍA DE CASTRO

Un manso río, una vereda estrecha,
un campo solitario y un pinar,
y el viejo puente rústico y sencillo
completando tan grata soledad.

¿Qué es soledad? Para llenar el mundo
basta a veces un solo pensamiento.
Por eso hoy, hartos de belleza, encuentras
el puente, el río y el pinar desiertos.

No son nube ni flor los que enamoran;
eres tú, corazón, triste o dichoso,
ya del dolor y del placer el árbitro,
quien seca el mar y hace habitar el polo.
DIGA-ME, SR. PROFESSOR: QUE É QUE O MEU FILHO FEZ?

O pai de um aluno foi chamado à escola do filho. Quando chegou, disse-lhe: "Diga-me lá, senhor professor, o que é que ele fez? Pelo sim, pelo não, já lhe dei uma tareia". Parece anedota, mas, garante Morgado, aconteceu assim. O caso ilustra como entre algumas famílias está instalada a ideia de que ir à escola dos filhos "é sinónimo de problemas, de ir ouvir alguma coisa má sobre eles". E só isso.

In Público de 30.04.2007

Risível, não é verdade? E dá que pensar. O nosso problema é que pensamos pouco, deixamos que os outros pensem por nós… Eu, que até acompanho razoavelmente a vida escolar dos meus filhos, já senti este problema: os procedimentos burocráticos incidem exclusivamente nos aspectos “negativos” da acção juvenil. O aluno deixa cair um lápis? Comunica-se ao director de turma. O aluno espirra? Comunica-se ao director de turma. O aluno ri-se? Comunica-se ao director de turma. E este, claro, ampliando os acontecimentos, comunica aos pais. Que, embrenhados na sua vida, detestam receber tais comunicados. Em trinta anos de vigilância escolar dos meus filhos, nunca recebi informações positivas suas. Penso que há excesso de zelo da parte de alguns professores, demasiado preocupados com o comportamento dos seus alunos. Tenho para mim que um bom professor saberá encontrar a cada momento as estratégias adequadas, com aulas bem planeadas e atractivas, de forma a não "permitir" maus comportamentos. Em mais de trinta anos de profissão, NUNCA fiz uma participação disciplinar! Nunca achei necessário, nem sei porque deveria passar para os outros responsabilidades exclusivamente minhas. Porque o professor tem de amar os seus alunos, e compreendê-los, e perdoar-lhes, tal como amamos e perdoamos os nossos filhos. Eu sei que a coisa às vezes é complicada, que há comportamentos difíceis de entender, e que há professores sem paciência. Mas...

sexta-feira, abril 27

A CIDADELA BRANCA II

Acabei A cidadela branca. Li o livro em seis horas, nada mau. E se o li em seis horas isso significa que gostei. O tema é simples e poderia resumir-se em “Quem sou eu?”. Não me perguntem porque gostei, eu limito-me a gostar, e o critério estético é exactamente esse, o do gosto. Nesse aspecto, vou na onda do Vergílio Ferreira. Não sei porquê, mas lembrei-me de Borges, esse argentino extraordinário. E é tudo. Ah… para a Margarida, a minha comentadora: quando disse “risquei” queria dizer “sublinhei”. Tenho montanhas de livros sublinhados, são meus e são da minha gente. Tomara eu que o meu mais novo sublinhasse…

quinta-feira, abril 26

A CIDADELA BRANCA

Comecei o Pamuk. Vou na página 70 de A cidadela branca. Risquei a seguinte passagem:

(…) por serem todos “idiotas”, não olhavam para os astros que se moviam por cima das suas cabeças e não reflectiam sobre esses movimentos; por serem idiotas, perguntavam antes de mais nada para o que podia servir o que iam aprender; por serem idiotas, não se preocupavam com pormenores e contentavam-se com resumos (…).

Hmmm… o contexto é diferente, mas isto faz-me lembrar qualquer coisa…

segunda-feira, abril 23

ORHAN PAMUK

Ter alunos estrangeiros tem destas vantagens: nós ensinamos pouco e aprendemos muito. Hoje conversávamos sobre Saramago, sobre as peculiaridades do seu estilo, denso e difícil. Falamos, claro, sobre o prémio Nobel. O Hakan, de barbicha ao queixo, sorriu e perguntou: o professor já leu o Orhan Pamuk? Oh vergonha das vergonhas, disse-lhe que não. Mas é o Nobel 2006, sorriu. Engoli em seco e prometi-lhe que sim, que iria ler tudo do Orhan. E o prometido é devido: vou ler o grande escritor turco. Depois direi qualquer coisa.

quinta-feira, abril 19

FUTEBOLISTAS: OS APOCALÍPTICOS

Pois é, abro os jornais e espanto-me com o esgar guerreiro e os dentes eriçado-amarelos dos nossos jogadores de bola. Um diz que vão lutar até à morte. Coitado. Lá terá de ser… Outro diz que vão lutar até à última gota de sangue. Já viram? Eles a correr e o sangue a pingar, a pingar… Por isso é que eles caem tanto, coitados… O do Benfica é mais epidérmico, vai deixar a pele em campo, acho que já comprou dois quilos de pele artificial… Os do Porto, esses, porque o Norte é mais verde e mais saboroso, até comem a relva. Mas não, estes não são guerreiros, estes parecem ruminar no fim de cada jogo. De momento, a vantagem é dos ruminantes, porque se alimentam bem. Os outros, sem pinga de sangue, já não podem com a bola. Este futebolês…

quarta-feira, abril 18

ALGARVE, FUTEBOL, HINOS E CRIANÇAS

No Algarve, houve um Torneio de miúdos, vieram de todo o lado, também da nossa vizinha Espanha. Quando tocou o hino espanhol, a equipa do Barcelona não compareceu. Deve haver alguma explicação para o facto, mas em Espanha caiu o Carmo e a Trindade. Segundo a “Marca” de hoje, Laporta respeita o veto do hino espanhol: “Yo no voy a alimentar estas cuestiones. Se retroalimentan solas. Respeto todo lo que han hecho los representantes del club en esta cuestión y en todas porque toman las decisiones que creen que tienen que tomar. Y pido respeto también”. Claro, o respeito é muito bonito. Mas los niños... Devíamos proibir os hinos? Se calhar, como neste caso, as crianças agradeciam. Porque isto de "Às armas, às armas..." cheira ligeiramente a vivaz arcaísmo. Ou estou a exagerar?

segunda-feira, abril 16


O NOME DAS FLORES
Hoje a Bela deu-me uma lição toda floral. Eu já sabia que nomear a natureza requer imensa sabedoria, há tantas árvores, tantas flores, que até me sinto envergonhado por desconhecê-las. Quer dizer, eu sei o que é uma tília, tenho-a mesmo em frente do nariz, dá muita sombra nos dias de canícula; também sei o que é um castanheiro, como dele as castanhas, a minha mobília é de castanho, podia ser de vinhático, mas não é. E até sei mais alguns nomes, mas perante elas, quando as vejo e quero identificá-las, saltam-me as meninges, sou analfabeto, alguém falhou na formação e fui com certeza eu. A Bela, pois, falou-me da arruda. Eu conhecia o nome, mas nunca a vira. Que cheira mal, diz ela. Eu não achei. Tem um cheiro forte, mas não desagradável. Que espanta o mau-olhado. E parece ser verdade, pelo menos os antigos já lhe atribuíam esse condão. Outros querem-na afrodisíaca. Eles lá sabem. Mas quando me falou nos olhos-de-freira, nos pica-narizes ou nas cristas-de-galo, juro que descambei. Eu de flores sei as rosas e os cravos, os contáveis mal-me-queres e, em excepcional extremo, os brincos-de-princesa ou as alegria-no-lar, todas elas flores bem jardináticas e nada dadas a grandes interiores. O que eu não esperava da Belita era um não-te-metas-na-minha-vida. Olhei bem de soslaio para os seus ondulantes cabelos, franzi-lhe uma bochecha, e só ao fim de sorumbáticos segundos percebi que designava uma ervita qualquer. E eu na minha ignorância: isso são designações bem regionais, na minha terra nunca ouvi falar disso. A minha terra, ali ao lado, uma centena de metros, duas centenas talvez…

domingo, abril 8

QUE NOSSA SENHORA NOS PERDOE !

Fiquei curioso. Não-te-metas-na-minha-vida é longa e curiosa designação para planta ou flor, e prova esta relação quase indissolúvel entre as nossas emoções e a natureza que as pressente. Na minha busca de outros nomes curiosos, de plantas ou flores, encontrei o choramingas não-me-deixes. Lembrei-me imediatamente daqueles versos do Gonçalves Dias, que dizem assim:

Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava...
"Ai, não me deixes, não!"

Onde terá o miosótis ganho cidadania como não-me-deixes? Na pena do poeta? Ou terá o poeta jogado este jogo entre a coisa e a sua denominação popular? Porque o povo tem-nas boas, ora é o não-me-deixes, ora o não-me-esqueças, ora ainda o não-me-toques, ora, no limite, o não-te-esqueças-de-mim. Claro que foi o povo, não o erudito, que nomeou as flores. A flor é de Abril ou é de Maio, é de esperança, é de amor ou de paixão. A de lis é também a da verdade. A flor-da-noite traz consigo uma alvorada. A viuvinha, essa, é a flor-de-viúva sorrindo à nova vida. Mas a melhor, a que me deixa mesmo derretido pela abrangência da significação é, sem a mínima dúvida, a flor-de-babado-de-nossa-senhora. Que a Senhora compreenda, e nos perdoe todos os pecados, inclusive o da nomeação.

quarta-feira, abril 4

A INVERDADE

Soa tão mal, não soa? A verdade, porém, é que a verdade anda de tal forma aos trambolhões que já nem tolera a mentira. Porque mentir é, segundo o dicionarista, uma acção bruta. E não convém ser-se bruto quando assim se mente. Nós ouvimos os políticos e eles nunca mentem. Quando muito, dizem algumas inverdades. E pronto, ficam de alma lavada. Se a língua é bela, este neologismo é feio. Atiremo-lo, Lídia, à força do rio.