quinta-feira, março 22

POLVILHAR COM POLVO?

A aluna esbugalhou os olhos, muito admirada. Era espanhola, e eu compreendi imediatamente o motivo da sua reacção. Porque polvilho não é, evidentemente, o filhote do polvo, esse molusco cefalópede ventoso que nos guarnece o prato em dias especiais. E eu expliquei-lhe que polvilhar não significa salpicar com polvo, porque em português não há relação evidente entre estas duas palavras. E, finalmente, lá compreendeu. Porque se, na nossa língua, a coisa já é complicada de entender, muito mais será quando, em espanhol, polvo significa . E aí sim, polvilhar tem, nas duas línguas, o mesmo significado. Estes amigos são mesmo muito falsos e é preciso ter muito cuidado com eles, olá se é…

quarta-feira, março 21


TO SLEEP

O soft embalmer of the still midnight,
Shutting, with careful fingers and benign,
Our gloom-pleas'd eyes, embower'd from the light,
Enshaded in forgetfulness divine:
O soothest Sleep! if so it please thee, close
In midst of this thine hymn my willing eyes,
Or wait the "Amen," ere thy poppy throws
Around my bed its lulling charities.
Then save me, or the passed day will shine
Upon my pillow, breeding many woes,--
Save me from curious Conscience, that still lords
Its strength for darkness, burrowing like a mole;
Turn the key deftly in the oiled wards,
And seal the hushed Casket of my Soul.

John Keats

domingo, março 18

LÁBIO LEPORINO

Lábio laparino, explicava o Tone, imponente na sua sabedoria. Porque, se a lógica não era uma batata, vinha de láparo, filho do elegante laparoto. E com efeito, a origem do dito cujo é assim para o obscuro, e parece ser verdade: lábio laparino seria então aquela anomalia congénita, aquela fissura no lábio com que nascem alguns seres humanos, e que lembra a fissura do láparo, que é sem dúvida o coelho. O problema é que não, não vem de láparo, mas de leporinus, relativo a lebre. A diferença é subtil, mas justifica a grafia leporino. Leporino é, portanto, relativo a lebre, e não a láparo (coelho). Escreva-se, pois, lábio leporino.

sábado, março 17

CEREJEIRAS EM FLOR


Esta fotografia é de Jacqueline CAMUS, tirada no jardim de Yonne, Véron, em França. Por vezes delicio-me com fotografias da natureza, a maioria lindíssimas, autênticas obras-primas de grandes profissionais. Esta captou-me a atenção pelo nome da artista: CAMUS. Se o existencialismo percorreu a literatura, eis como o nome CAMUS revigora na própria natureza: nós existimos nela e ela sorri-nos em cores inesquecíveis. Olhemo-la.

quarta-feira, março 14

DA INTERROGAÇÃO À AFIRMAÇÃO

A propósito da guerra no Iraque, diz o sueco Hans Blix, ex-inspector-chefe de armas das Nações Unidas, que Bush e Blair puseram pontos de exclamação em vez de pontos de interrogação, onde estavam perguntas, eles mudaram-nas para afirmações. Se o sueco o diz, é porque é verdade. E as consequências estão a ser terríveis. Quem diz que os sinais de pontuação não são importantes? Mudar de uma interrogação para um singelo ponto final equivale a uma guerra sangrenta e desnecessária. Como é possível que políticos “responsáveis” ajam desta forma despudorada sem receberem o merecido castigo? Blair vai embora nas calmas faiscando pepsodente. Bush passeia hipocrisias pela América latina. No entretanto, sofre-se no Iraque. Y no pasa nada…

domingo, março 11

LUCROS FABULOSOS

Segundo o jornal SOL, os 5 maiores grupos portugueses (EDP, PT, BCP, GALP e CGD) ganharam 4 mil milhões de euros em 2006, isto num ano de crise e de forte desemprego. A electricidade, os telefones, a gasolina , os bancos. Quatro mil milhões de euros que saíram do bolso dos portugueses e que, desta forma paulatina, vão ficando mirradinhos até ao tutano. Este país é realmente nosso? Sorriso do estrangeiro.

quinta-feira, março 1

PAY AS YOU THROW

Segundo O DN de hoje, “os cidadãos que fazem mais lixo poderão vir a pagar mais. O Governo está a estudar a implementação de uma tarifa do lixo cobrada consoante a quantidade de resíduos produzidos. O conceito pay as you throw (pague consoante o que deita) pretende tornar mais justo o custo do tratamento dos resíduos, penalizando quem tem menor consciência ambiental. Na prática, poderá significar cobrar um preço consoante o peso ou o volume do saco do lixo”. Estou mesmo a imaginar a cena: adeus Sameiro, adeus Bom-Jesus, adeus Gerês… Porque, está claramente visto, se o português tiver de pagar ao quilo o lixo que produz, vai despejá-lo direitinho nas faldas das serras ou das montanhas. E lá se vai a nossa linda paisagem. Eu acho é que esta gente não conhece o chico português…