quinta-feira, novembro 13

PARA PENSAR

O E. é um jovem de dez anos, muito inteligente e sensível, que gosta de ler e de escrever. Porque lê muito e com prazer, conhece já parte substancial do léxico e usa-o com propriedade. Um destes dias, desenvolveu em casa um tema simples. A mãe, como sempre, ajudou-o numa ou noutra vírgula, mas sem interferir no registo vocabular. Ontem o professor sublinhou-lhe a redacção e disse-lhe: “Estas palavras não foram escritas por ti”. O E. não reagiu, mas sentiu-se injustiçado. Ontem à noite o E. estava calmamente a fazer outra redacção. Escreveu uma palavra mais “difícil”, a mãe achou-a muito bem utilizada no contexto e disse-lhe: “Olha que bem!...”. E incentivou-o. Mas o E. ficou pensativo, cabisbaixo, e disse à mãe: “Não, mãe, é melhor não usar essa palavra, porque o professor não vai acreditar que fui eu que a escrevi”. A mãe ficou estarrecida com a resposta e decidiu ir falar imediatamente com o professor.

Este episódio é verdadeiro e faz-nos pensar. Que parte cabe aos pais na educação (e na instrução) dos seus filhos? Que acção científica e pedagógica deve o professor desenvolver para que não destrua pela raiz a competência e a criatividade de jovens como E.? Porque quando uma criança de dez anos não escreve a palavra X porque o professor não vai gostar, ou porque o professor vai duvidar, então algo está profundamente errado. E o erro não está certamente na criança, que apenas quer exprimir o seu pensamento nas estruturas que lhe são intrínsecas e com as palavras que vai aprendendo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já me aconteceu o mesmo!