segunda-feira, junho 15

ELIPSE LACUNAR

De acordo com o dicionarista, em língua, a elipse é a omissão do termo ou uma frase que se subentende pelo contexto. Se não houvesse a possibilidade de omitir elementos numa frase ou num texto, repetiríamos ad náusea elementos comprovadamente desnecessários para a compreensão do dito. As novas terminologias trazem-nos designações interessantes para fenómenos específicos e que convém conhecer: anáfora do complemento nulo, elipse do sv, despojamento, elipse lacunar, truncamento, pergunta e resposta abreviada, réplica retificadora e elipse nominal. De entre estas designações, gosto da designação elipse lacunar. Não sei porquê, traz-me logo à memória o eclipse lunar e todas as reminiscências românticas da poesia do Soares de Passos. Em geral, a elipse lacunar caracteriza-se por afetar o verbo flexionado da frase ou a sequência de verbos auxiliares e principal. É assim que diz a Gramática da Língua Portuguesa e é assim que acontece. Há, no entanto, um sinalzinho chamado asterisco que sempre me incomodou, pois serve, nestes contextos generativistas, para registar a agramaticalidade das construções. O grande problema é sempre este: como se afere, e quem afere, a agramaticalidade? Porque devo aceitar que a elipse lacunar não ocorre em domínios de subordinação? Isto é, porque devo aceitar como válido o registo de agramaticalidade para o complexo oracional A Ana lê romances e penso que a Maria poemas. (GLP: 2003:902) se não vislumbro agramaticalidade nenhuma? O asterisco é a mancha negra da gramática, o representante de todos os excessos, mesmo quando, eventualmente, estes não são excessivos. A Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mateus et alii  (Ed. Caminho) é excelente para a língua portuguesa. Científica, avançada, nada fácil para o português normal. Estudem-na, se puderem. E relevem os asteriscos.



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