ELIPSE LACUNAR
De acordo com o dicionarista, em língua, a elipse é a omissão do termo
ou uma frase que se subentende pelo contexto. Se não houvesse a possibilidade
de omitir elementos numa frase ou num texto, repetiríamos ad náusea elementos comprovadamente desnecessários para a
compreensão do dito. As novas terminologias trazem-nos designações
interessantes para fenómenos específicos e que convém conhecer: anáfora do
complemento nulo, elipse do sv, despojamento, elipse lacunar, truncamento, pergunta
e resposta abreviada, réplica retificadora e elipse nominal. De entre estas
designações, gosto da designação elipse
lacunar. Não sei porquê, traz-me logo à memória o eclipse lunar e todas as
reminiscências românticas da poesia do Soares de Passos. Em geral, a elipse
lacunar caracteriza-se por afetar o verbo flexionado da frase ou a sequência de
verbos auxiliares e principal. É assim que diz a Gramática da Língua Portuguesa e é assim que acontece. Há, no
entanto, um sinalzinho chamado asterisco
que sempre me incomodou, pois serve, nestes contextos generativistas, para
registar a agramaticalidade das construções. O grande problema é sempre este:
como se afere, e quem afere, a agramaticalidade? Porque devo aceitar que a
elipse lacunar não ocorre em domínios de subordinação? Isto é, porque devo
aceitar como válido o registo de agramaticalidade para o complexo oracional A Ana lê romances e penso que a Maria poemas.
(GLP: 2003:902) se não vislumbro agramaticalidade nenhuma? O asterisco é a
mancha negra da gramática, o representante de todos os excessos, mesmo quando,
eventualmente, estes não são excessivos. A
Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mateus et alii (Ed. Caminho) é
excelente para a língua portuguesa. Científica, avançada, nada fácil para o português
normal. Estudem-na, se puderem. E relevem os asteriscos.
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