AMARGURA
Amar em amarelo e amargura. Compreendo a relação significativa,
penso na forma latina amǡrus,
relaciono-a com a bílis, com a doença, com a palidez, com o humor amargo. E
concluo que real e simbolicamente o amarelo é a cor da amargura. Não sei em que
tonalidades, que as há claras e escuras, foscas ou torradas, cinzentas ou cobalto,
esverdeadas ou enxofres. E também tonalidades de risos. Risos amarelos, mal-humorados,
biliosos, amargos, muito amargos… E daí o amargor e a amargura. A amargura é o
sabor amargo das coisas. Figurativamente, é dor moral, tristeza, aflição e
angústia. Brincamos às vezes com esta culpabilização da bílis como órgão do
sentir, fazemos o mesmo com o pobre coração, levamos tudo para o âmbito das
figurações, mas esquecemos que o amarelo da face pode ser – e é, frequentemente
– indício de grande sofrimento. Por isso
tento sempre uma distinção profunda e relevo a máxima conversacional da
sinceridade: se o riso, o sorriso, é amarelo, quantos gramas de humor amargo
exprimirá? E quanta amargura? Pesar humores amargos, talvez na balança
científica. Medir amarguras, coisas do peito, dores profundas, só de coração aberto,
craveira de nónios multiplicados.
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