quarta-feira, junho 24

AMARGURA


Amar em amarelo e amargura. Compreendo a relação significativa, penso na forma latina amǡrus, relaciono-a com a bílis, com a doença, com a palidez, com o humor amargo. E concluo que real e simbolicamente o amarelo é a cor da amargura. Não sei em que tonalidades, que as há claras e escuras, foscas ou torradas, cinzentas ou cobalto, esverdeadas ou enxofres. E também tonalidades de risos. Risos amarelos, mal-humorados, biliosos, amargos, muito amargos… E daí o amargor e a amargura. A amargura é o sabor amargo das coisas. Figurativamente, é dor moral, tristeza, aflição e angústia. Brincamos às vezes com esta culpabilização da bílis como órgão do sentir, fazemos o mesmo com o pobre coração, levamos tudo para o âmbito das figurações, mas esquecemos que o amarelo da face pode ser – e é, frequentemente – indício de grande sofrimento. Por isso tento sempre uma distinção profunda e relevo a máxima conversacional da sinceridade: se o riso, o sorriso, é amarelo, quantos gramas de humor amargo exprimirá? E quanta amargura? Pesar humores amargos, talvez na balança científica. Medir amarguras, coisas do peito, dores profundas, só de coração aberto, craveira de nónios multiplicados.

Sem comentários: