quarta-feira, abril 6

SORRISO

Gosto de quem sorri. Gosto também de quem ri e muito mais de quem gargalha. Uma boa gargalhada é uma brisa forte em dia de canícula. É sempre agradável ver a distensão dos lábios, os cantos da boca elevados, a alegria que daqui se depreende, desde que não se vislumbre neles ironias ou desdéns, ou desde que a cor do sorriso não desmaie e tenda para o amarelo. Às vezes, não é fácil sorrir. A vida vai-se encarregando de pressionar os lábios, de os enviar para baixo, e o peso da tristeza influi até no tamanho das orelhas. Sorrir de orelha a orelha é, não quantas vezes, um acto impossível. Porque as orelhas estão muito distantes, pousadas nas nuvens cinzentas da tristeza. Por isso comprei uma balança de precisão e um paquímetro. Ultimamente, deu-me para pesar as nuvens e medir a distância entre as orelhas. E vou descobrindo que, por efeitos físicos ou com certeza psicológicos, elas se distanciam cada vez mais, e o sorriso se torna paulatinamente muito mais difícil. O sorriso, aquele de orelha a orelha, o rasgado, o franco, o verdadeiro.

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