PROFECIAS
Disse um dia François de la Rochefoucauld mais ou menos assim: só é sensato quem é da minha opinião. Porque isto de ver bom-senso em quem nos afronta não é fácil… Ou por outra: exige de nós uma mão-cheia de áurea sabedoria. Há dias em que nos apetece ser sensatos, acordamos assim, dizemos a nós próprios “ hoje eu vou perdoar, vou ser bom menino” e pronto, passamos um dia porreiro, a descascar castanhas e a regá-las com vinho. Mas há outros em que, oh valha-me Deus, mais valia termo-nos colado ao colchão. Acordamos chatos, insuportáveis, e fazemos coisas do arco-da-velha.
Nestes últimos dias, deu-me para ler profecias. Não sei porquê, os novos profetas são todos da área financeira. Estamos no fim do mundo, é a bancarrota, vem aí uma guerra mundial, o Sócrates vai pedinchar no Sodré… É um ver-se-te-avias de avisos: eu avisei-te, eu sou Deus, avisei-te, para que compraste essa porcaria, não vês que a bolsa ainda vai cair mais… Estes são os profetas da desgraça, os corvos do pedestal, enfim, os sensatos.
2008 foi um ano muito mau. Mas não porque o ano seja mau, coitado, o ano não tem culpa nenhuma. A culpa, afinal, é dos outros sensatos, daqueles que, sabendo, fingiam que não sabiam. E o ano foi mau, muito mau.
Os corvos dizem que 2009 vai ser pior, muito pior, espirram. São corvos, são negros, miram de cima, do epicentro da tempestade. Espreitam. E aguardam a morte da presa.
O homem de bom-senso sabe que todas as tempestades têm o seu fim. O homem de bom senso sabe que, depois da noite escura vem o dia radiante. E aguarda, confiante, porque tem esperança e acredita.
Eu pressinto que 2009 vai ser um ano muito difícil, mas acredito que o sol ainda nele vai brilhar. Eu creio. E, ao contrário de la Rochefoucauld, dou de bandeja aos corvos os grãos da minha sensatez.
Um Feliz Ano de 2009 para todos.
Disse um dia François de la Rochefoucauld mais ou menos assim: só é sensato quem é da minha opinião. Porque isto de ver bom-senso em quem nos afronta não é fácil… Ou por outra: exige de nós uma mão-cheia de áurea sabedoria. Há dias em que nos apetece ser sensatos, acordamos assim, dizemos a nós próprios “ hoje eu vou perdoar, vou ser bom menino” e pronto, passamos um dia porreiro, a descascar castanhas e a regá-las com vinho. Mas há outros em que, oh valha-me Deus, mais valia termo-nos colado ao colchão. Acordamos chatos, insuportáveis, e fazemos coisas do arco-da-velha.
Nestes últimos dias, deu-me para ler profecias. Não sei porquê, os novos profetas são todos da área financeira. Estamos no fim do mundo, é a bancarrota, vem aí uma guerra mundial, o Sócrates vai pedinchar no Sodré… É um ver-se-te-avias de avisos: eu avisei-te, eu sou Deus, avisei-te, para que compraste essa porcaria, não vês que a bolsa ainda vai cair mais… Estes são os profetas da desgraça, os corvos do pedestal, enfim, os sensatos.
2008 foi um ano muito mau. Mas não porque o ano seja mau, coitado, o ano não tem culpa nenhuma. A culpa, afinal, é dos outros sensatos, daqueles que, sabendo, fingiam que não sabiam. E o ano foi mau, muito mau.
Os corvos dizem que 2009 vai ser pior, muito pior, espirram. São corvos, são negros, miram de cima, do epicentro da tempestade. Espreitam. E aguardam a morte da presa.
O homem de bom-senso sabe que todas as tempestades têm o seu fim. O homem de bom senso sabe que, depois da noite escura vem o dia radiante. E aguarda, confiante, porque tem esperança e acredita.
Eu pressinto que 2009 vai ser um ano muito difícil, mas acredito que o sol ainda nele vai brilhar. Eu creio. E, ao contrário de la Rochefoucauld, dou de bandeja aos corvos os grãos da minha sensatez.
Um Feliz Ano de 2009 para todos.
1 comentário:
Realmente é verdade. Há dias em que acordo radiante, "feliz" com a vida (uma felicidade ilusória claro), alegre por apenas respirar. nesses dias todas as coisas me parecem belas, as cores são mais brilhantes, tudo vale a pena, porque estou viva. mas tammbém há aqueles dias em que tudo nos enerva, todos parecem conspirar contra nós, o mundo inteiro se for preciso. Contudo, esses "estados de alma" derivam muitas vezes de problemas que escapam ao nosso alcance, que na minha opinião é quase tudo. Com a nossa ânsia de controlar tudo na vida, andamos constantemente frustrados, por essa mesma razão. É que nós não controlamos nada. A única coisa que controlamos são as nossas acções e pensamentos (e fazemos isso muito mal por vezes), não o que é exterior a nós. tudo bem há contas a pagar, familiares doentes, entes queridos que morrem, etc. Mas o que resolve ficar frustrado com as contas que não são pagas? O que adianta deitar as culpas no patrão que não nos paga o suficiente, no banco que pratica juros impensáveis ou no estado que não dá ajuda suficiente? Ou o que dizer da morte? é claro que é duro, uma pessoa não deixa de sofrer. mas resolve alguma coisa fixarmo-nos nessa parte natural da vida? Não resolve nada. Em vez de perdermos o nosso precioso tempo de vida a culparmos tudo e todos, temos de encarar a situação, reconhecê-la como ela é e pensar na melhor maneira de a ultrapassar. o que fazer para arranjar mais dinheiro? Ou simplesmente aceitar que há coisas que simplesmente não podemos fazer nada para resolver, como a morte. Que, já agora, para mim não é o fim da vida. Para mim, morte é o contrário de nascimento. A nossa energia, aquilo que nos faz "funcionar", apenas se transforma (uma das regras da física). claro que é mais fácil falar do que agir, mas basta apenas dar o 1o passo, reconhecendo que simplesmente não adianta ficar frustrado pelo que se passa à nossa volta. Basta reconhecer que as coisas são como são e que gritar, espernear e culpar não resolve a situação. Ela já existe, independentemente de nós a querermos aceitar ou não...
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