domingo, dezembro 28

O canário

O meu pai criava canários. Cruzava-os, amarelo com laranja, laranja com vermelho, o resultado era surpreendente. Mais surpreendente ainda era o resultado vocal. Fascina-me o trinado glorioso desta ave bela, que me reenvia aos leves dias da infância. Um dia tive um canário, dava-lhe painço e ovos cozidos, até que um dia tive de sair. Descobri então que um canário é como um filho, que é preciso alimentá-lo, acarinhá-lo. Mas tinha de sair. Bem pedi à vizinha que tratasse dele durante uns dias, mas ela, com uma ternura nada canora, disse-me que não. Portanto, dei-o. Durante seis meses chorei o raio do canário. Que saudades do seu cantar!... Jurei que animais nunca mais. E é verdade, até rima.

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