A “INDISCIPLINA” E O BOM-SENSO.
Há um ditado popular que diz: pai impertinente, filho desobediente. Quem tem filhos, quem educa no dia-a-dia, sabe muito bem que, com os filhos, melhor é a palavra do que a bofetada. Aliás, a ideia da bofetada, tão em voga em tempos ditatoriais, já nem pega. Hoje educa-se com exemplos, com persuasão, com bom-senso, e, essencialmente, com muito amor e carinho. Pelo menos, assim é que deve ser. Tenho três filhos que respeito e me respeitam e nunca lhes toquei com um dedo.
Na escola, tenho para mim que um bom professor nunca precisará de castigar um aluno se for realmente um bom professor. Mesmo em contexto de conflito, um bom professor saberá, com sabedoria e bom-senso, dirimi-lo de forma positiva, aproveitando-o para educar. Penalizar um aluno mostrando-lhe o “cartão” amarelo da rua ou o “vermelho” da suspensão não costuma ser eficiente solução.
Li hoje num jornal bracarense, na página relativa ao desporto e a propósito de castigos associativos, que “os jovens são os mais indisciplinados”. No que respeita ao futebol – acompanho jogos de juvenis com assiduidade -, tal afirmação não é verdadeira. Os jovens são puros na forma como jogam e como reagem e a comparação implícita é injusta.
Já o disse noutro texto: o grande problema da formação, do futebol juvenil, é o défice de qualificação técnica e humana da maioria dos árbitros. Em múltiplas situações, os árbitros agem sem bom-senso, punindo onde deverão usar de boa pedagogia. É muito fácil puxar de um amarelo, ou de um vermelho, e exibi-lo ufanamente. Mais difícil é explicar ao jovem o porquê das decisões de forma calma e ponderada. No último sábado assisti a um jogo de juvenis. Jogo muito bem disputado, com disciplina absoluta. Em determinado momento, o árbitro assinalou uma falta, daquelas banais, que acontecem várias vezes durante todos os jogos. De forma abrupta e sobranceira, tirou o cartão amarelo do bolso e mostrou-o a um jogador, jovem de comportamento exemplar. Candidamente ( eu estava muito perto e ouvi), o jovem perguntou ao árbitro: “O que é que eu fiz?”. Imediatamente o árbitro, num gesto inadmissível e prepotente, mostrou-lhe o cartão vermelho. O capitão de equipa, também de forma educada, dirigiu-se ao árbitro e perguntou-lhe porquê. E o árbitro, de forma absolutamente inaceitável, mostrou novamente o cartão vermelho. Quer dizer, no espaço de um minuto, um jogo brilhante foi transformado numa luta desigual e injusta por exclusiva culpa de um árbitro incompetente.
Se um pai impertinente faz um filho desobediente, que dizer de um árbitro que assim age? Poderemos dizer que a missão de arbitrar é difícil. E é verdade! Em língua, o melhor critério de correcção é o do uso, único válido em todas as circunstâncias, como dizem os melhores gramáticos. No futebol juvenil, com jovens em formação, o melhor critério, além de todas as regras, é o do bom-senso. Que todos sejamos sensatos: em casa, na escola, no campo de futebol. E se somos educadores, que mais sensatos sejamos!