sábado, novembro 25

QUANDO PROMETER É FAZER...

Há um livro muito interessante, de Oswald Ducrot, com o título Quand dire c’est faire. Quando dizer é fazer. Lembrei-me dele ao ler no Globo brasileiro que Lula promete um segundo mandato mais ousado e com menos sacrifícios. Os brasileiros, tal como os portugueses, conhecem de cor e salteado a palavra “sacrifício”, sentem-se, aliás, quotidianamente imolados em todas as aras do mundo, que parecem falar apenas em português. E lembrei-me de Ducrot por causa daquele verbo prometer. Quando um político promete, ele está já fazendo, porque prometer é fazer. Sócrates também prometeu, e muito, e quando o fez, fê-lo. Porque fazer depois de prometer é tautologia, é redundância. Por isso ele, depois de prometer, trocou os pés e desatou a desfazer. Ou melhor, a desfazer para mim ou para ti. Que para os outros, bancos e quejandos, a tautologia teve imensos benefícios. Que o verbo seja transitivo, ainda aceito. Que eu seja o complemento indirecto, vade retro Satanás!

1 comentário:

Chico disse...

Mas este aqui, o Brasil, parece terra de promessas inesgotáveis que se escondem atrás da ignorância da maioria. Promessas infundadas, quer seja na execução , quer na acepção das mesmas.
O povo brasileiro é jovem em sua maioria e devem temer os políticos que tenham conhecimento os menos favorecidos. A consciência, no caso, traria a rebelião e a certa mudança do status quo.

Um forte abraço. Gosto muito do que escreve você, "ora pois".