domingo, maio 10

DIÁLOGOS DE AMOR

Há muitos anos, descobri uma obra maravilhosa de um português desconhecido, nascido em Lisboa em 1465 ( ou em 1490, segundo Reis Brasil), cujo nome atravessou todas as fronteiras. Trata-se dos Diálogos de Amor, de Leão Hebreu, um dos maiores pensadores que a Humanidade criou e que em Portugal, infelizmente, quase ninguém conhece. Comprei a obra, em dois volumes, e devorei-a em poucos dias, tão saboroso era o sumo de tão magnificente escrito. Apaixonei-me por Fílon e Sofia, e percorri com eles a profundidade espiritual do amor e do desejo.

Lembro-me de ter registado algumas afirmações que me obrigaram a pensar o que repito agora. A primeira é relativa à poesia, e releva que os poetas encerram muitos sentidos nas suas ficções. Lembro-me de ter lido, na altura, “o poeta é um fingidor”, de Fernando Pessoa, e de ter analisado este poema em cinquenta mil direcções. Foi uma fase muito interessante de descoberta teológica que recordo com alegria. A segunda diz respeito às figuras geométricas. Ler que "a mais formosa das figuras é a circular porque está toda em si e tem partes" conduziu-me à fascinação pelo sol e pela lua, pelas estrelas e pelos seios de mulher, tudo fogo, luz e claridade que me inebriaram por uns muito largos e profícuos tempos. A terceira, que me deixou mais pensativo do que o pensativo cigarro do grande Eça, foi a declaração de que “o que se ama, possui-se; e o que se deseja, falta-nos”.

Demorei alguns rios da minha vida a perceber esta profunda filosofia. Hoje, mais calmo e sorrindo das minhas eloquentes cãs, sei que me falta tudo o que desejo. Mas sei também que possuo em mim, que me é já absolutamente intrínseco, todos os que amo ou alguma vez amei, e que essa possessão é vida e sangue em mim, e que viverei com esse amor agora e para todo o sempre.

Se puderem, leiam Leão Hebreu.

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