Diferem em muito o amor e o gozo daquilo que se possui.
SOFIA – Bem vejo que o amor e o desejo são uma mesma coisa na sua substância, e assim mesmo os seus contrários, mas o amor da coisa não possuída e o da possuída parecem (como dizem eles) bem diferentes.
FÍLON – Parecem, mas não são diversos. Na verdade o amor da coisa possuída não é o deleite, nem é o gozo da fruição do possuído, como estes dizem. O possuinte da coisa amada deleita-se e goza, mas o gozar e deleitar-se não é amor, porque não pode o amor, que é movimento ou princípio de movimento, ser uma mesma coisa com o gozo ou deleite, que são quietude, fim e término do movimento. Asseguro mesmo que têm progressos tão contrários, que o amor vai do amante para a coisa amada, mas o gozo deriva da coisa amada para o amante. Vejamos mormente que o gozo é do que se possui e o amor é sempre do que falta, e é sempre uma mesma coisa com o desejo.
SOFIA – Mas a coisa possuída é amada, e aquela já não falta.
FÍLON – Não falta a posse presente, mas falta a perseverança contínua dela no porvir, a qual deseja e ama aquele que possui de presente. E a posse presente é a que deleita; mas a vindoura é a que se deseja e se ama. De maneira que, tanto o amor da coisa possuída, como o da não possuída, é uma mesma coisa com o desejo. Contudo, é uma coisa diferente do deleite, assim como a dor e a tristeza é uma coisa diferente do ódio e do aborrecimento, porque a dor existe por causa da posse presente do mal presente, e o ódio é por não ter coisa no porvir.
Aviso: há alguns anos, o New Criticism relevava algumas importantes falácias, entre as quais se evidenciava a falácia biografista. Consiste tal falácia em relacionar, de modo simplista, o texto ou a obra com a vida do autor. Neste exacto momento, juro solenemente que não me chamo Leão Hebreu, que o diálogo entre Fílon e Sofia não saiu da minha cabecinha e que eu não sou nem o amante nem a coisa amada referidos no texto.
FÍLON – Parecem, mas não são diversos. Na verdade o amor da coisa possuída não é o deleite, nem é o gozo da fruição do possuído, como estes dizem. O possuinte da coisa amada deleita-se e goza, mas o gozar e deleitar-se não é amor, porque não pode o amor, que é movimento ou princípio de movimento, ser uma mesma coisa com o gozo ou deleite, que são quietude, fim e término do movimento. Asseguro mesmo que têm progressos tão contrários, que o amor vai do amante para a coisa amada, mas o gozo deriva da coisa amada para o amante. Vejamos mormente que o gozo é do que se possui e o amor é sempre do que falta, e é sempre uma mesma coisa com o desejo.
SOFIA – Mas a coisa possuída é amada, e aquela já não falta.
FÍLON – Não falta a posse presente, mas falta a perseverança contínua dela no porvir, a qual deseja e ama aquele que possui de presente. E a posse presente é a que deleita; mas a vindoura é a que se deseja e se ama. De maneira que, tanto o amor da coisa possuída, como o da não possuída, é uma mesma coisa com o desejo. Contudo, é uma coisa diferente do deleite, assim como a dor e a tristeza é uma coisa diferente do ódio e do aborrecimento, porque a dor existe por causa da posse presente do mal presente, e o ódio é por não ter coisa no porvir.
Aviso: há alguns anos, o New Criticism relevava algumas importantes falácias, entre as quais se evidenciava a falácia biografista. Consiste tal falácia em relacionar, de modo simplista, o texto ou a obra com a vida do autor. Neste exacto momento, juro solenemente que não me chamo Leão Hebreu, que o diálogo entre Fílon e Sofia não saiu da minha cabecinha e que eu não sou nem o amante nem a coisa amada referidos no texto.