quarta-feira, maio 23

CARAGO NON... CARAGO!...

No nosso dia-a-dia, de acordo com as múltiplas circunstâncias em que nos movemos, dificilmente usamos um registo de língua uniforme, nem ele existe, como é fácil de ver. Podemos, claro, falar cuidadosamente, com estruturas e palavras “elevadas”, numa conferência de linguística, numa aula de Português, ou, até, numa mesa de café. No entanto, parece evidente que, se participamos num jogo amigável de futebol, o registo desce ligeiramente, e não raras vezes se ouve uma carvalhada acrescida de uma sonora gargalhada. Quer dizer, usamos diversos registos em diversos momentos consoante as circunstâncias, e, se o intuito não for clara e inequivocamente ofensivo, ninguém levará a mal tais carvalhadas. Aliás, expressões consideradas ofensivas, como caralho, ou filho da puta, podem perfeitamente ser usadas com valoração bem positiva. Por exemplo, e neguem-no, se forem capazes, quando vejo Cristiano Ronaldo a torcer os olhos aos defesas e digo Que filho da puta de jogador! Extraordinário…, faço-o com profunda admiração, e nunca com sentido pejorativo.
Vem isto a propósito de uma senhora directora da DREN que decidiu suspender um professor destacado pelo simples facto de ele ter usado a expressão filho da puta num contexto qualquer que não foi especificado ( expressão que, aliás, o professor nega ter usado). E tudo porque, na sua opinião, ofendeu o primeiro-ministro que, ao que parece, é um ser celestial, profundamente angélico e que, durante a sua eremítica vida, nunca deve ter proferido nem uma singelinha carvalhada. Ora, ao que se vislumbra, descobrimos de repente estar o nosso país em fase purgatória, sob os auspícios de angélicos e linguisticamente imaculados dirigentes que, no seu afã de protecção de tachos e panelas, genuflectem perante sábios, eremitas e, pasme-se, até filósofos. Percebe-se a emergência de uma censura que pensávamos a milhas, lá longe, no alto mar. Pelos vistos, as censuras e os censores andem por aí, como diz o zé povinho. Ora bolas: por este caminho, noventa e nove por cento dos portugueses vão ser sujeitos a processo disciplinar por excesso de linguagem. Entom a malta do Puerto, carago… (será que posso dizer carago se o nosso Sócrates me der mais um encontrão? Hmmm… tenho de pensar bem nisso, não vá o diabo tecê-las…).

1 comentário:

Anónimo disse...

Creio que,hoje em dia,já ninguém menciona a filiação,vai-se directamente ao "que puta de jogador!" (pragmatismo,uma vez mais). Deve ser uma expressão mais ou menos do género que sairia dos seus lábios,caso tivesse ouvido,como eu ouvi,a seguinte afirmação, igualmente do Ronaldo:"O Manchester deu-me autorização para não falar"...