QUE NOSSA SENHORA NOS PERDOE !
Fiquei curioso. Não-te-metas-na-minha-vida é longa e curiosa designação para planta ou flor, e prova esta relação quase indissolúvel entre as nossas emoções e a natureza que as pressente. Na minha busca de outros nomes curiosos, de plantas ou flores, encontrei o choramingas não-me-deixes. Lembrei-me imediatamente daqueles versos do Gonçalves Dias, que dizem assim:
Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava...
"Ai, não me deixes, não!"
Onde terá o miosótis ganho cidadania como não-me-deixes? Na pena do poeta? Ou terá o poeta jogado este jogo entre a coisa e a sua denominação popular? Porque o povo tem-nas boas, ora é o não-me-deixes, ora o não-me-esqueças, ora ainda o não-me-toques, ora, no limite, o não-te-esqueças-de-mim. Claro que foi o povo, não o erudito, que nomeou as flores. A flor é de Abril ou é de Maio, é de esperança, é de amor ou de paixão. A de lis é também a da verdade. A flor-da-noite traz consigo uma alvorada. A viuvinha, essa, é a flor-de-viúva sorrindo à nova vida. Mas a melhor, a que me deixa mesmo derretido pela abrangência da significação é, sem a mínima dúvida, a flor-de-babado-de-nossa-senhora. Que a Senhora compreenda, e nos perdoe todos os pecados, inclusive o da nomeação.
Fiquei curioso. Não-te-metas-na-minha-vida é longa e curiosa designação para planta ou flor, e prova esta relação quase indissolúvel entre as nossas emoções e a natureza que as pressente. Na minha busca de outros nomes curiosos, de plantas ou flores, encontrei o choramingas não-me-deixes. Lembrei-me imediatamente daqueles versos do Gonçalves Dias, que dizem assim:
Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava...
"Ai, não me deixes, não!"
Onde terá o miosótis ganho cidadania como não-me-deixes? Na pena do poeta? Ou terá o poeta jogado este jogo entre a coisa e a sua denominação popular? Porque o povo tem-nas boas, ora é o não-me-deixes, ora o não-me-esqueças, ora ainda o não-me-toques, ora, no limite, o não-te-esqueças-de-mim. Claro que foi o povo, não o erudito, que nomeou as flores. A flor é de Abril ou é de Maio, é de esperança, é de amor ou de paixão. A de lis é também a da verdade. A flor-da-noite traz consigo uma alvorada. A viuvinha, essa, é a flor-de-viúva sorrindo à nova vida. Mas a melhor, a que me deixa mesmo derretido pela abrangência da significação é, sem a mínima dúvida, a flor-de-babado-de-nossa-senhora. Que a Senhora compreenda, e nos perdoe todos os pecados, inclusive o da nomeação.
1 comentário:
É incrível como o sentimentalismo lusitano colectivo não poupa sequer as flores. As pobres coitadas vêem-se assim envolvidas numa metáfora que não lhes diz respeito,e são oferecidas como símbolo de uma qualquer emoção que, não só desconhecem, como não sentem...pelo menos, tanto quanto é possível uma Margarida saber...
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