segunda-feira, abril 30

DIGA-ME, SR. PROFESSOR: QUE É QUE O MEU FILHO FEZ?

O pai de um aluno foi chamado à escola do filho. Quando chegou, disse-lhe: "Diga-me lá, senhor professor, o que é que ele fez? Pelo sim, pelo não, já lhe dei uma tareia". Parece anedota, mas, garante Morgado, aconteceu assim. O caso ilustra como entre algumas famílias está instalada a ideia de que ir à escola dos filhos "é sinónimo de problemas, de ir ouvir alguma coisa má sobre eles". E só isso.

In Público de 30.04.2007

Risível, não é verdade? E dá que pensar. O nosso problema é que pensamos pouco, deixamos que os outros pensem por nós… Eu, que até acompanho razoavelmente a vida escolar dos meus filhos, já senti este problema: os procedimentos burocráticos incidem exclusivamente nos aspectos “negativos” da acção juvenil. O aluno deixa cair um lápis? Comunica-se ao director de turma. O aluno espirra? Comunica-se ao director de turma. O aluno ri-se? Comunica-se ao director de turma. E este, claro, ampliando os acontecimentos, comunica aos pais. Que, embrenhados na sua vida, detestam receber tais comunicados. Em trinta anos de vigilância escolar dos meus filhos, nunca recebi informações positivas suas. Penso que há excesso de zelo da parte de alguns professores, demasiado preocupados com o comportamento dos seus alunos. Tenho para mim que um bom professor saberá encontrar a cada momento as estratégias adequadas, com aulas bem planeadas e atractivas, de forma a não "permitir" maus comportamentos. Em mais de trinta anos de profissão, NUNCA fiz uma participação disciplinar! Nunca achei necessário, nem sei porque deveria passar para os outros responsabilidades exclusivamente minhas. Porque o professor tem de amar os seus alunos, e compreendê-los, e perdoar-lhes, tal como amamos e perdoamos os nossos filhos. Eu sei que a coisa às vezes é complicada, que há comportamentos difíceis de entender, e que há professores sem paciência. Mas...

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