segunda-feira, abril 16


O NOME DAS FLORES
Hoje a Bela deu-me uma lição toda floral. Eu já sabia que nomear a natureza requer imensa sabedoria, há tantas árvores, tantas flores, que até me sinto envergonhado por desconhecê-las. Quer dizer, eu sei o que é uma tília, tenho-a mesmo em frente do nariz, dá muita sombra nos dias de canícula; também sei o que é um castanheiro, como dele as castanhas, a minha mobília é de castanho, podia ser de vinhático, mas não é. E até sei mais alguns nomes, mas perante elas, quando as vejo e quero identificá-las, saltam-me as meninges, sou analfabeto, alguém falhou na formação e fui com certeza eu. A Bela, pois, falou-me da arruda. Eu conhecia o nome, mas nunca a vira. Que cheira mal, diz ela. Eu não achei. Tem um cheiro forte, mas não desagradável. Que espanta o mau-olhado. E parece ser verdade, pelo menos os antigos já lhe atribuíam esse condão. Outros querem-na afrodisíaca. Eles lá sabem. Mas quando me falou nos olhos-de-freira, nos pica-narizes ou nas cristas-de-galo, juro que descambei. Eu de flores sei as rosas e os cravos, os contáveis mal-me-queres e, em excepcional extremo, os brincos-de-princesa ou as alegria-no-lar, todas elas flores bem jardináticas e nada dadas a grandes interiores. O que eu não esperava da Belita era um não-te-metas-na-minha-vida. Olhei bem de soslaio para os seus ondulantes cabelos, franzi-lhe uma bochecha, e só ao fim de sorumbáticos segundos percebi que designava uma ervita qualquer. E eu na minha ignorância: isso são designações bem regionais, na minha terra nunca ouvi falar disso. A minha terra, ali ao lado, uma centena de metros, duas centenas talvez…

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