Sempre que posso, leio originais. Desde que fiz a experiência com uns franceses do século XIX (Flaubert, Zola…), fiquei vacinado. Os italianos têm razão, o traduttore tende a ser um traditore, e, no que respeita aos recursos estilísticos característicos de cada autor, é um traidor completo. Não acreditam? Comparem o original de Poe com as traduções de Assis e de Pessoa e digam qualquer coisinha:
EDGAR ALLAN POE - (1809-1849) - THE RAVEN ( O Corvo)
Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As some one gently rapping at my chamber door.
‘ ’Tis some visitor,’ I muttered, ‘tapping at my chamber door—
Only this, and nothing more.’
Machado de Assis
Em certo dia, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais".
Fernando Pessoa
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais
«Uma visita», eu me disse, «está batendo a meus umbrais.
É só isso e nada mais.»
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