segunda-feira, janeiro 26

QUANDO DIZER É FAZER
Um dia li Oswald Ducrot. Aprendi com ele que, quando usamos determinado tipo de verbos, ao dizer estamos já fazendo. Não é o povo que diz que prometer é favor? Pois, quem promete, já prometeu. Se cumpre ou não, isso é outro problema.
Com Ducrot aprendi também a pensar sobre argumentação e questionação. O que me intriga na questionação é o seu carácter "impositivo", talvez melhor, "ditatorial". Porque os outros assumem sempre que somos obrigados a responder a todas as perguntas, e a verdade é que não somos. Poderão os outros dizer que, se não queremos responder, é porque queremos esconder. O que não é verdade universal. Eu posso não querer responder porque me apetece não responder, e ponto final. Também posso assumir que não respondo porque a resposta leva em si algo da minha intimidade, e ela é, evidentemente, minha.
Acho, aliás, grande indelicadeza fazer certas perguntas, principalmente quando adivinho as respostas. Não acho justo pôr na corda bamba uma pessoa que, por uma ou outra razão, não quer responder. Poderão alguns sorrir da face corada dos outros, mas tal sorriso será sempre emocionalmente sobranceiro. Portanto, não faço certas perguntas. Acho mais justo esperar por alguma informação que me esclareça. Porque, quando alguém quer dizer, diz. E ao dizer, faz.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que não somos todos assim....e que ainda há aqueles que não se intimidam em responder com a verdade se confrontados com perguntas de qualquer natureza, pois por muito dura e penosa que a verdade seja, é sempre bem melhor que uma mentira, e até mesmo que uma dúvida. Eu pelo menos prefiro.

Anónimo disse...

Devemos balizar os argumentos.
Presumindo que não conheço a pessoa que fez este comentário de lado nenhum, se a encontrar na rua, posso perguntar-lhe se fez sexo ontem à noite? E posso perguntar-lhe com quem? Estará o/a simpático/a comentador/a obrigado a responder, ou achará um abuso tais perguntas? Claro que, num contexto de extrema intimidade (um casal, por exemplo), a ausência de resposta terá um determinado significado. Mas, mesmo nesse caso, o respeito pelo silêncio (pela intimidade) do outro parece-me fundamental. O que tiver de ser dito, sê-lo-á, com todas as consequências consideradas.

Anónimo disse...

Compreendo as ideias, mas não estou muito de acordo, sobretudo no que se refere ao casal. Num casal não pode existir nenhum segredo. Se houver segredos, não há confiança.b