terça-feira, maio 19

O GATO E OS PARDELHOS

O contexto é um jardim triangular: um pinheiro manso muito jovem, uma palmeira com algumas folhas desmaiadas, um centro de flores e um gato. Negro e pequenino, correndo atrás de uns pardelhos bravos que bicavam sementes. No passeio, avó e neta arrastavam o tempo, extenso para uma, mais curto para outra. A pequena, extasiada com o rabo em riste do gatito, ficava-se para trás. A avó, de braço estendido para a retaguarda, olhava em frente e esgravatava o ar à procura da neta.
− Que raio, rapariga, já te disse que não te quero longe de mim. Ou vais ao meu lado ou vais à frente!
Dando uma corrida, a pequena pôs-se ao lado da avó.
Mas o gato eriçava os bigodes, firmava um ar atacante e fixava-se nos pássaros. E a pequena, que nem tinha bigodes nem tinha ar de gato, voltou a parar e especar-se. A mão da avó voltou a esgravatar o ar com ânsias de algo sólido, mas só sentiu o vazio. Foi então que se virou e viu a neta em adoração de um quadro. Acariciou-a e disse:
− O gatinho é bonito, não é?
 É, avó, mas ele quer comer os pássaros.
− Oh, meu amor, ele é tão pequenino… E os pássaros voam, têm asas, achas que se deixam apanhar?
A pequena sorriu e continuou ao lado da avó.


Sem comentários: