A LÍNGUA
Desde
Ferdinand de Saussure, toda a gente sabe o que é a língua. Enquanto sistema que
serve uma comunidade, a língua é logicamente usada, e move-se. Pensamos na
língua portuguesa, por exemplo, nos arcaísmos, nos neologismos, nos acordos
gráficos, nas discussões acaloradas em torno da coisa e concluímos que sim, é
verdade, a língua move-se.
A língua, porém, é também um órgão muscular, como diz o dicionário, recoberto de mucosa, e que, entre outras responsabilidades, também ajuda a produzir sons. Com ela, e isso é que é realmente relevante, nós podemos fazer coisas, seja objetivamente, em sentido literal, seja em sentido figurado. O povo, esse malandro que ninguém sabe quem é, sempre se entreteve nas figurações, e assim atribuiu à língua funções que ela, na sua humilde casota, nem se atreveria a pensar. Por exemplo, quem não mordeu já a língua, ficando a ganir durante uns bons momentos? Não é coisa boa, não, mas será muito bom que se morda a língua em situações de conflito, não vá o diabo tecê-las e saiam algumas verdades inconvenientes para o patrão…
Há pessoas que, com certeza por deformação genética difícil de explicar, têm a língua solta, algumas têm uma língua viperina e outras, ainda, têm uma língua de palmo e meio. Se vão a um especialista dessas deformações, o que poderá ele dizer? Que sejam operadas? Que mudem de língua? Ou que, eventualmente, a engulam? Mas, engolir a língua, além de causar grande desconforto físico, também causa desconforto psicológico. É que, de língua assim engolida, as pessoas nem podem respirar, quanto mais falar… Em vez de engolir podem, no entanto, dobrá-la, o que poderá ser solução menos dolorosa.
O especialista poderá então dizer: olhe, meu amigo, quando quiser falar, não engula a língua, dobre-a. Vai ver que se sentirá muito melhor. Está-se mesmo a ver que, em algumas situações, o doente vai reagir, e dizer qualquer coisa como ó senhor doutor, mas como vou dobrá-la se eu tenho tudo na ponta da língua? Aliás, eu tenho necessidade de a desenferrujar de vez em quando, se a engulo ou dobro nem posso deitá-la de fora. E isso não é bom, senhor doutor, que eu gosto de deitá-la de fora à minha vizinha… Ó senhor doutor, por favor, não seja indiscreto, não bata com a língua nos dentes, olhe que eu respeito muito a senhora… Nem seja má-língua, que eu também não sou…
O doutor, perante esta reação, que poderá dizer? Das duas uma, ou concluirá que não estão a falar a mesma língua, ou que a dita é realmente um músculo muito difícil de agarrar. Se a língua é de vaca, come-se. Se a língua é de gato, saboreia-se com um chazinho. E se a língua for da sogra? Vai também com um chazinho ou foge-se?
A língua, porém, é também um órgão muscular, como diz o dicionário, recoberto de mucosa, e que, entre outras responsabilidades, também ajuda a produzir sons. Com ela, e isso é que é realmente relevante, nós podemos fazer coisas, seja objetivamente, em sentido literal, seja em sentido figurado. O povo, esse malandro que ninguém sabe quem é, sempre se entreteve nas figurações, e assim atribuiu à língua funções que ela, na sua humilde casota, nem se atreveria a pensar. Por exemplo, quem não mordeu já a língua, ficando a ganir durante uns bons momentos? Não é coisa boa, não, mas será muito bom que se morda a língua em situações de conflito, não vá o diabo tecê-las e saiam algumas verdades inconvenientes para o patrão…
Há pessoas que, com certeza por deformação genética difícil de explicar, têm a língua solta, algumas têm uma língua viperina e outras, ainda, têm uma língua de palmo e meio. Se vão a um especialista dessas deformações, o que poderá ele dizer? Que sejam operadas? Que mudem de língua? Ou que, eventualmente, a engulam? Mas, engolir a língua, além de causar grande desconforto físico, também causa desconforto psicológico. É que, de língua assim engolida, as pessoas nem podem respirar, quanto mais falar… Em vez de engolir podem, no entanto, dobrá-la, o que poderá ser solução menos dolorosa.
O especialista poderá então dizer: olhe, meu amigo, quando quiser falar, não engula a língua, dobre-a. Vai ver que se sentirá muito melhor. Está-se mesmo a ver que, em algumas situações, o doente vai reagir, e dizer qualquer coisa como ó senhor doutor, mas como vou dobrá-la se eu tenho tudo na ponta da língua? Aliás, eu tenho necessidade de a desenferrujar de vez em quando, se a engulo ou dobro nem posso deitá-la de fora. E isso não é bom, senhor doutor, que eu gosto de deitá-la de fora à minha vizinha… Ó senhor doutor, por favor, não seja indiscreto, não bata com a língua nos dentes, olhe que eu respeito muito a senhora… Nem seja má-língua, que eu também não sou…
O doutor, perante esta reação, que poderá dizer? Das duas uma, ou concluirá que não estão a falar a mesma língua, ou que a dita é realmente um músculo muito difícil de agarrar. Se a língua é de vaca, come-se. Se a língua é de gato, saboreia-se com um chazinho. E se a língua for da sogra? Vai também com um chazinho ou foge-se?