SEXTA-FEIRA SANTA
Sexta-feira Santa em Braga. Sol
brilhante, uma leve brisa, pessoas cruzando-se em multiplicações linguísticas,
de telemóvel em riste sempre pronto a disparar. Ao longo da avenida, flores
redondas de todas as cores fazem de mim o centro de um quadro de Kusama. Fundo
os olhos no Picoto, no Bom-Jesus ou no Sameiro e sinto no verde variegado toda
a esperança da Humanidade. Embrenho-me no coração da cidade e estou bem. Uma
senhora espanhola pergunta-me pela sé. Digo-lhe que é ali, e ela dá-me graças.
Muitas graças. Ouço comentários sobre a beleza dos monumentos e dos jardins
floridos, sobre o sol e sobre as abelhas que labutam. Um quadro de Kusama
sintetiza este mundo: amor, cor e alegria. É isto o paraíso? Desço a avenida,
vejo duas amigas abraçadas e ouço: − Não te preocupes, minha querida, vai tudo
correr bem. Eu estou aqui para te ajudar, não te esqueças! – Há solidariedade
no ar. No café, leio o jornal. No Quénia, jovens estudantes universitários
morrem em ataques bárbaros. São cristãos. O papa Francisco chora as mortes e
aponta o dedo ao silêncio. Pode o céu coexistir com o inferno?
1 comentário:
Sempre bom observador. Olho de professor é o que é!
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