sábado, abril 4

SEXTA-FEIRA SANTA

Sexta-feira Santa em Braga. Sol brilhante, uma leve brisa, pessoas cruzando-se em multiplicações linguísticas, de telemóvel em riste sempre pronto a disparar. Ao longo da avenida, flores redondas de todas as cores fazem de mim o centro de um quadro de Kusama. Fundo os olhos no Picoto, no Bom-Jesus ou no Sameiro e sinto no verde variegado toda a esperança da Humanidade. Embrenho-me no coração da cidade e estou bem. Uma senhora espanhola pergunta-me pela sé. Digo-lhe que é ali, e ela dá-me graças. Muitas graças. Ouço comentários sobre a beleza dos monumentos e dos jardins floridos, sobre o sol e sobre as abelhas que labutam. Um quadro de Kusama sintetiza este mundo: amor, cor e alegria. É isto o paraíso? Desço a avenida, vejo duas amigas abraçadas e ouço: − Não te preocupes, minha querida, vai tudo correr bem. Eu estou aqui para te ajudar, não te esqueças! – Há solidariedade no ar. No café, leio o jornal. No Quénia, jovens estudantes universitários morrem em ataques bárbaros. São cristãos. O papa Francisco chora as mortes e aponta o dedo ao silêncio. Pode o céu coexistir com o inferno?


1 comentário:

Unknown disse...

Sempre bom observador. Olho de professor é o que é!