quarta-feira, fevereiro 16

ODI ET AMO

Odi et amo: quare id faciam, fortasse requiris.
nescio, sed fieri sentio et excrucior.
Caius Valerius Catullus (84 B.C. ? 54 B.C.)


Odeio e amo. Perguntas-me porquê. Eu não sei, mas sinto e sofro.

Lembro-me de ter lido Catulo nos meus tempos de Latim e de ter reflectido sobre o ódio e o amor em versos de uma beleza extraordinária. O amor, na pena dos poetas e no coração dos homens, é um sentimento exigente, implica uma entrega pessoal completa, absoluta. Quando se ama verdadeiramente, todos os gestos, todas as palavras, todos os discursos são lidos e sentidos sem ambiguidades, com a clareza cristalina do poder do amor. Como dizia Balzac, tudo cai bem a este sentimento, sejam coisas pequeninas, como uma flor, mesmo que dada  emurchecida, seja uma palavra sem grande significado, ridícula ou fora de contexto. Pessoa dizia que as cartas de amor são ridículas, e percebe-se porquê. Mas são cartas de amor.

Um dia, em consequência de um grão de areia, este amor sublimado estremece e galga a linha, aquela linha fina que se junta ao amor e que separa dele o seu reflexo, lá do outro lado: o ódio. Ao ódio, tal como ao amor, também tudo vai caindo bem. No ódio as ambiguidades ganham praça, as vírgulas potenciam sentidos, tudo serve para as exegeses que se movimentam em velocidades vertiginosas nas mentes em turbilhão. Na Ética de Espinoza, o ódio é apresentado como sinónimo de tristeza, de perda, que acompanha a ideia de que a culpa é sempre exterior.

Tenho para mim que quem um dia odeia, é porque ama. Estou com Catulo e ligo os sentimentos de forma irreversível. O ódio é a sublimação do amor?

1 comentário:

Anónimo disse...

Penso que o ódio é uma tentativa de justificação psicológica para os nossos próprios erros. Daí ser, mais do que uma tristeza interior, um escape da nossa própria frustração.