sábado, março 6

AS REFORMAS E O PARADOXO DE ZENÃO

Lembram-se do paradoxo de Zenão, de Aquiles e da tartaruga? Pois é, o Aquiles bem queria apanhar a tartaruga, mas, por artes do diabo, quando chegava junto dela já ela tinha fugido… E retomava o movimento. Mas quando chegava outra vez junto dela, ou ao local onde tinha estado, já ela tinha andado mais um pouquinho. E assim até ao infinito. Tenho pensado muito neste paradoxo a propósito das aposentações, vulgo reformas, dos sacrificados portugueses. E não é que eles queriam apanhar a tartaruga inteirinha já em muitos anos do passado? E não é também que o raio da tartaruga dá sempre um passo em frente, e nunca é apanhada? Era aos cinquenta, e o Aquiles perto, junto lá da meia centena, e ela pimba, andou para os 55. E o Aquiles, coitado, já a resfolegar, acelerou até aos 55. Só que, por artes ainda por descobrir, o carapácico réptil lá saltou para os 60… Aquiles parou, atónito e pensou: mas será que o meu socrático filósofo tem mesmo razão e o paradoxo é mesmo universal? Vamos lá experimentar outra vez. E quase de bofes atirou-se aos 60. Mas não, já lá não estava. O outro tinha razão: aos sessenta nem se tenta. E Aquiles coçou o queixo. 62? 65? 67? 70? Não, não corro mais e seja o que Deus quiser. Talvez a tartaruga e o filósofo morram pelo caminho, muito antes de mim. Nesse momento, ultrapassá-los-ei. De bengala, corcovadinho, mas impante e bem feliz.

1 comentário:

Pedro Marcos disse...

Gostei imenso do texto e não pude resistir a fazer um comentário, tambem a ligação estabelecida entre o paradoxo de Zenão e as aposentações não me deixou indiferente. Gostaria de acrescentar que apesar de sermos jovens é possivel, que umas décadas mais tarde, nem tenhamos direito a aposentações e que inclusivé continuemos obrigatóriamente a fazer os vulgo descontos.

Pedro Marcos