sexta-feira, dezembro 25

JARRINHA

Há quem não goste, mas eu adoro dicionários. Alguns são lindos por fora, têm letras douradas e cheiros a papel antigo, mas é lá dentro que o fruto tem sabor. Lá dentro, nos verbetes, mais ou menos extensos, mas carregadinhos de significados. Há bocado, sem querer, encontrei a jarrinha, pequena jarra que tenho também ali no canto, com assinatura da Rosa Ramalho e tudo, oferta de lautíssimo aniversário. Nas folhas amareladas, no entanto, a beleza suplanta a da realidade. Enterneço-me, por exemplo, com a jarrinha-batatinha, planta volúvel, ou com a jarrinha-bico-de-passarinho, trepadeira nativa do Brasil. Tão bonito, não é? Quem inventou estes nomes só podia ser poeta, pois eles abrem-se em metáfora como a flor se abre em pétalas. Viro a página e eis uma jarrinha-de-franjas de mão dada com uma jarrinha-dos-campos. Mas da que eu gosto mais é da jarrinha-de-lábio-pintalgado. Reminiscências ou soluços encobertos? Alguém disse um dia que as palavras não são bonitas nem feias, são o que são e significam o que significam. Ao olhar para a jarrinha, porém, mergulho no desacordo. Que belas são estas palavras!

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