Lembram-se da geração rasca, do nosso sábio Vicente? Pois é verdade, dizem que anda por aí um adjectivo vestido de negro, a impor-se às criancinhas, transformando-os em indigentes analfabetos. Dizem, mas eu não acredito. Porque não há gerações ordinárias, muito menos reles. Há é o que há, e se calhar a culpa é da sobrinha. Os dicionários bem registam estas e outras acepções. Na Madeira, parece que gostam destas rascas, desde que bem tostadinhas com manteiga. Os pescadores chamavam rasca aos barquinhos de pesca, e daí talvez rascar, verbo assim meio para o arcaico. O Dicionário da Academia nem menciona este verbo e penso que não faz bem. Porque, no verbete do rasca, lá vem a referência a uma pretensa derivação regressiva do verbozinho rascar, e ele foge-que-te-agarro. Mas é verdade que andamos todos à rasca, eu diria mesmo à rasquinha, e isto talvez queira dizer que andamos aflitos nas ondas do nosso tumultuoso mar. Que isto de ser pescador sem cana tem que se lhe diga. Que o diga o sapiente Sócrates, que parece que rema, mas só abana.
De Metakrítica
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