quarta-feira, janeiro 31

TENHO ÊXITO, PORTANTO, SOU FELIZ!

Num livro conhecido e muito interessante, A conquista da felicidade, diz a dado passo o grande filósofo Bertrand Russel:

A raiz do mal reside no facto de se insistir demasiadamente que no êxito da competição está a principal fonte da felicidade. Não nego que o sentimento do triunfo torna a vida mais agradável. Um pintor, por exemplo, que viveu obscuramente na juventude, decerto se sentirá feliz se o seu talento acabar por ser reconhecido. Não nego também que o dinheiro, até um certo limite, é capaz de aumentar a felicidade; para lá desse limite, julgo que não. O que eu afirmo é que o êxito só pode ser um dos vários elementos da felicidade e que é demasiado o preço pelo qual se obtém se a ele se sacrificam todos os outros.

Há dias, a televisão portuguesa mostrou uma entrevista de uma senhora que decidira parar. Dizia a inteligente senhora que, depois de fazer contas, achava desnecessário procurar o êxito debaixo do agoniante stresse, e que conseguiria viver bem e ser feliz com a quarta parte do que recebia mensalmente. Para quê viver um dia-a-dia agoniante se podia, pura e simplesmente, apreciar a beleza da vida, o chilrear vibrante dos pássaros, o pôr-do-sol raiado, os sorrisos das crianças nos parques… E decidira, portanto, antecipar o fim da sua carreira em nome da sua felicidade. Ambos, Russel e a senhora, têm razão. O dinheiro, até um certo limite, ajuda a ser-se feliz. A partir daí, estou certo de que só traz infelicidade. Estou como aquela senhora. Um dia destes decido-me por viver, porque até hoje só sobrevivi. Porque, para olhar o sol ou ouvir os pássaros, não é necessário pagar bilhete. E a água das nascentes é de graça…

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