quarta-feira, abril 2

ACREDITO NOS PORTUGUESES!
O Firmino, meu amigo e meu aluno, escreveu este texto. Está muito bem escrito, tem ideias claras e apresenta uma visão muito positiva de Portugal e dos portugueses. Dou-lhe os parabéns e incentivo-o a escrever cada vez mais.

A Globalização é um fenómeno que afecta, praticamente, todos os países ocidentais, embora com diferentes graus de influência, consoante a sua localização geográfica, o acolhimento que as populações dão ao que lhes chega de fora a quase toda a hora e, em termos mais específicos, ao maior ou menor proteccionismo que os estados utilizam como meio para salvaguardar a actividade económica doméstica.

O contínuo alastramento desta realidade vem provocando mudanças no quotidiano das nações, que não seriam previsíveis há alguns anos atrás. A livre circulação de pessoas e bens originou uma transformação, quase radical, nas economias dos países levando a ajustamentos com que muitos não contariam. A mobilidade em termos de emprego será uma das faces mais visíveis dessa realidade. A procura de um emprego estável e duradoiro, não raras vezes para toda a vida, que era apanágio do nosso país, vai sendo substituído por uma mobilidade estranha a essa anterior realidade, hoje encarada como normal e, até, em alguns casos, incentivada. Simultaneamente, é possível observar a chegada de imigrantes das mais variadas nacionalidades, o que parece ameaçar a força laboral indígena, já de si debilitada pelas altas taxas de desempregados. A par com esta realidade, as repercussões em termos de indústria e comércio internos, derivadas da proliferação da entrada de produtos oriundos de países com mão-de-obra mais barata, onde as exigências em termos de protecção social são quase inexistentes, e onde, em boa verdade, não se observam limitações ao volume de carga horária laboral, provocando uma sensação desagradável de concorrência desleal, vai também minando a confiança dos agentes económicos e da população.

Mas, um país com uma história de mais de 900 anos, terá que se resignar a essa visão negativa e redutora deste fenómeno? Não seremos nós capazes de dar a volta por cima, como já tantas vezes fizemos? Claro que sim. Aliás, já é hoje possível encontrar jovens licenciados portugueses a dar cartas fora do país. À falta de oportunidades de desenvolverem as suas capacidades dentro de portas, é vê-los a desbravarem caminho em países que apostam neles, crentes das suas capacidades e competência, sabendo que a aposta não será em vão. Eles representam uma nova casta de emigrantes, não de mala de cartão na mão, mas sim de “canudo” em riste, prontos a encararem novos desafios, conscientes do seu valor e sem medo de enfrentarem a concorrência dos nativos desses países. Em termos económicos temos também o exemplo da indústria do calçado, que tem vindo, ano após ano, lenta mas seguramente, a consolidar-se como uma das que mais qualidade apresenta e, fruto dessa competência, a aumentar a sua penetração nos mercados internacionais e a exportar mais a cada ano.

Mesmo em termos históricos e culturais não creio que tenhamos muito a recear. Temos uma história das mais ricas, de que todos nos orgulhamos e de que muito poucos outros se podem vangloriar. No campo cultural também não devemos temer que as influências externas nos “colonizem”. Desde monumentos, a diversos locais classificados como património da humanidade pelo seu significado histórico-cultural, passando pelos enormes vultos da nossa literatura, de que muito poucos poderão ufanar-se, temos uma riqueza incomparável, da qual só podemos ter “vaidade”.

Concluindo: apesar do que muitos profetas da desgraça vaticinam em termos de futuro para o nosso país, creio que temos todas as razões para não alinharmos ao lado dos pessimistas que nada esperam de positivo. Um povo com uma história tão grandiosa, que já enfrentou desafios maiores e foi capaz de os dobrar, não será agora que irá capitular. Acredito, verdadeiramente, nos portugueses.

Firmino Joaquim Silva Cardoso

1 comentário:

Anónimo disse...

Este texto é muito interessante e é igualmente curioso verificar como uma postura meramente analítica se tornou,em breves instantes,numa apologia parcial do país. É incrível como a obsessão narcísica que temos de nos vangloriar pelo passado e de afirmar o quão grandes somos e podemos ser consegue dizer mais do que qualquer Problemática da Saudade ou Portugal,hoje: o medo de existir. Seria interessante soltar um pouco esta atitude tão egocêntrica,infantil de quem ainda não conseguiu enfrentar não se sabe bem o quê - parece-me que ainda ansiamos pelo Quinto Império...Não creio que outros povos apresentem uma necessidade tão grande de se vangloriarem do passado - nem vejo grande glória na usurpação de territórios através da expulsão dos nativos,mas pronto...
Ainda assim,apreciei a mensagem do texto. É necessário adoptar uma perspectiva aberta e optimista perante o futuro,não porque somos portugueses ou vivemos um passado glorioso mas porque,como dizia Confúcio,a melhor forma de prever o futuro é criá-lo.
E já que estamos inevitavelmente imseros num mundo global,insistir muito na ideia de grandeza nacional pode ser um entrave. Mas como de ultrapassar obstáculos percebemos nós...podemos sempre orgulhar-nos de termos sido os pioneiros da globalização,tendo sido ela o nosso grande Descobrimento.