terça-feira, março 31




Acabo de publicar DIZEM, livro de sonetos.
Os interessados podem contactar:
josemoreirasilva1954@gmail.com


OS PÊSSEGOS


Caminho lento na margem fresca do Este, rio ou ribeiro que atravessa a cidade. O dia está agradável para passear, e normalmente faço-o em horas matutinas. A água canta as suas melodias, os pássaros esvoaçam sobre as árvores, ouve-se o coaxar das rãs e o estrépito de alguns camiões sobre a ponte. À minha frente, ligeiras, em passo de dança, duas senhoras. Uma de fato de treino e grande rabo-de-cavalo, outra da calça de ganga e camisa larga. Conversam sobre frutas e doces, sobremesas com certeza, e aceleram de vez em quando o ritmo da passada.
− Eu gosto é de pêssegos em calda… − Diz a desportista.
− Ui, pêssegos é comigo! – Gargalha a outra.
− Também gosto muito de maçãs, mas com casca.
− Também, também, eu gosto muito de descascar… − E continua a rir.
− E de laranjas, adoro laranjas.
− De laranjas eu não gosto, já sabes, arrepiam-me ao descascar… E dão-me cabo das unhas. – Faz o gesto de arrepiar.
Atrás, eu estugo o passo. Posso lá perder aquelas peripécias?
− Oh amigo, você gosta de pêssegos? – Arrima-me a matreira.
− Hã? Quem, eu? Sim, claro, quem não gosta? – Respondo meio embasbacado.
− Vês, vês? Toda gente gosta de pêssegos. É tão bom!...
Sorrio, compreensivo. Que mais posso fazer?