quinta-feira, dezembro 30

NO RAMO DO LUAR


O caule do sorriso a pétala da dor
Dador que doa o caule sem raiz
E o sol que bate ali e que faz noite
Longe da seiva oca aqui do amor
Que não está pois que não está
Ou se perdeu no nimbo branco do além
Que entardeceu e desmaiou na noite
E mora aqui ali no ramo do luar

José Silva, 30.12.2010

terça-feira, dezembro 28

O TACHO E A TAXA

Fiquei a pensar: a que tacha se referia ela? Falava de sinistralidade, e cá para mim, qualquer coisa ali não batia certo. Porque, de tachas, apenas me recordo aquelas de cabeça redonda, larga e chata, com que fixamos alguns objectos, ou as da sujidade com que se mancha a honra das pessoas. Ah, e já agora, também me lembro da tacha bem arreganhada, o que, foneticamente, levanta um problema bastante delicado: e se dissessem ao nosso primeiro-ministro que anda a arreganhar a taxa em demasia? O que iria ele pensar, hem? Mas o melhor é pormos a coisa no masculino e resolvemos o assunto. No masculino? Mas tacha tem masculino? O Zé disse-me que sim, que é tacho, mas nós sabemos que isso não é possível, que tacha não é feminino de tacho, mas acreditem que ele deu-me tais explicações que ainda hoje tenho as meninges a latejar de tanto aprofundar a questão. Mas pronto, ela queria dizer taxa, aquele tributo arrecadado pelo Estado a título de prestação de determinados serviços, aqueles serviços que dizem que existem, mas não existem, a não ser que, por artes mais que metafísicas, deixemos de esperar mais do que doze horas, a ganir como cães esfomeados, nas filas horríveis de algo parecido com um hospital. Mas, afinal, por que carga de água os nossos políticos passam a vida a esticar a taxa?