O signo linguístico, a palavra, tem significante e significado, qualquer estudante de língua portuguesa sabe estabelecer esta diferença. O significado é aquilo que a palavra, dita ou escrita, quer dizer. O problema das palavras é que, numa parte substancial de casos, têm um significado digamos “básico”, a sua denotação, e outro ou outros significados, as conotações. Quem pedir uma banana e receber uma banana, accionou a denotação. Pode comer o fruto à vontade, ele é rico e nutritivo. Se a banana é o “único fruto do amor”, isso mesmo, aquilo em que está a pensar, então moveu uma conotação. A banana não é já o fruto, mas o órgão sexual masculino. As palavras são assim, agem em contexto, significam em contexto. Sem ele, o contexto, é complicado dar significados às palavras, quando muito vale a denotação. Mas as palavras são maravilhosas, sejam nomes, sejam adjectivos, sejam até advérbios… Sabia que a palavra embora resulta de em boa hora, ou que doravante resulta de de ora avante ( = de agora em diante)? Alguns adjectivos possuem informações culturais que são verdadeira mina de conhecimentos. Quem não sabe o significado de eólico, boreal ou hercúleo? Claro que todos sabem. Eólico é relativo a Eolo que, segundo Homero, era deus dos ventos. Boreal é relativo a Bóreas, titã do vento norte. Hercúleo tem relação com Hércules, aquele latagão. Titânico é relativo ao gigante Titã, irmão mais velho de Saturno. Lésbica deriva de Lesbos, ilha grega, onde Safo (menina) dedicava poemas às meninas. E os afrodisíacos? Esses são filhos de Afrodite, deusa grega do amor. Quanto à Vénus, era romana, linda e muito, muito amorosa. Tão amorosa que transmitia, parece, umas doenças venéreas que são, evidentemente, de evitar. Como se vê, as palavras estruturam frases, e as frases transmitem sentidos. Mas as palavras transportam também em si cultura, e esta só é hermética para quem não a quiser conhecer. A propósito deste adjectivo hermética, aprendamos mais umas coisas. Hermes, latino, é o deus Mercúrio grego. Em arquitectura há pilares herméticos, isto é, encimados por um ícone representativo do deus Hermes. Mas, se a cultura é hermética, a culpa não é do latino, é do egípcio! Pois, que Hermes Trismegisto era africano e criou, no século I, uma doutrina ligada ao gnosticismo e à alquimia. Esta doutrina era hermética, mesmo muito hermética...
De Metakritica,2006