sexta-feira, agosto 14

OS PATOS

Ofir é praia vestida de dunas altaneiras. Que queimam, como nos últimos dias. Depois do almoço, fujo sempre da canícula e aterro em Fão, junto a um rio Cavado de águas sempre azuis e limpas. Corre uma brisa agradável junto das barcaças, velhinhas como o tempo. Gaivotas em bando, pombos selvagens, alguns alfaiates de listas negras, um flamingo solitário e creio que duas garças reais voando em círculo perto de mim. Se fosse pintor, como dizia Brandão, pintava estes reflexos de voo em espumas leves, onduladas. Fecho os olhos e quase adormeço, enlevado pelas ondas. De repente, uns quáquás levam-me os olhos para a margem verde. Porque não tinha visto os patos? Lindo! Talvez uma centena, de rabinho a abanar e bico bem altivo. De repente, um movimento mais brusco, água em maior movimento: uma pata, franzina, diria mesmo magricela, enxota outros patos protegendo a sua prole. São sete os pequeninos, sempre aflitos atrás das asas da mãe. E fico aqui, embevecido, analisando a função protectora de uma pata na margem do rio. Nenhum pato se chega num raio de uns dois metros. Interessante. Porque não deixa os pequenos socializar-se? Neste entretanto, um quá mais alto se levanta e o grupo voa para meio do rio. Cem, duzentos metros? Que vai fazer a mãe? Ficará na margem. Olha… aí vai ela mais os sete, em alta velocidade, para o seio do grupo. Afinal, ela sabe socializar as crianças. E, curioso, já não enxota ninguém. Fico a pensar nos patos e em nós, que não somos patos, ou que somos patos, às vezes, quando outros patos fazem de nós patos. A natureza é linda!